Revezando vergonha na academia

Outro dia, estava na academia utilizando um aparelho chamado “leg press”. O item em questão consiste em uma armação metálica onde o usuário fica deitado em 45 graus e empurra com os pés uma placa que pode receber cargas variadas. Como sou fraco, a minha carga era de 50 quilos para cada lado. Enquanto eu fazia o número de repetições necessárias, vi que um belo exemplar do sexo feminino (lê-se “gostosa”) aguardava que eu terminasse para usar o aparelho.

Como sou cavalheiro, ofereci-me para ajudar a gost... digo, o belo exemplar do sexo feminino a retirar a carga do aparelho. Vale ressaltar que a jovem em questão devia ter um pouco mais do que 1,50 (lê-se “um metro e meio muito bem embalado numa calça rosa e num top com decote que a deixava uma delícia”). Para minha surpresa, eis que ela diz “não precisa, eu vou colocar mais peso”. Eu me tornei a materialização do constrangimento.

Dias depois, a situação era inversa. Não, eu não consegui aumentar a carga no aparelho enquanto ela diminuiu, não foi isso. Ela estava usando enquanto eu esperava. Quando ela terminou, perguntou, com uma risada quase escapando “quer ajuda para tirar os pesos?”. O que respondi?

(a) Quero, claro, sou fraco.

(b) Não, comi espinafre hoje e aguento esse peso todo.

(c) Quero que você tire a roupa, sua linda.

Realmente, academia tem desses momentos dos mais constrangedores. Outro dia, quando comecei uma série nova de exercícios, não sabia se estava sendo torturado em versões modernas de instrumentos da ditadura ou se estava fazendo posições do kama sutra em público.

E o sofrimento não parou por aí. Depois de uma hora exercitando músculos cujas existências eu desconhecia, fui fazer esteira. Cansado, escolhi a velocidade 6, algo como caminhar no shopping. Já que minha coordenação motora não é das melhores, uso uma das mãos para me segurar numa barra de proteção do equipamento. Enquanto isso, ao meu lado, um senhor de idade avançada corre loucamente ao mesmo tempo em que conversa. Sem segurar na barra de proteção.

Esteira essa que apresenta em seu monitor a opção "comeÇe agora". Sim, com cedilha. Chamei uma junta de professores de educação física para mostrar o atentato à ortografia, mas pelo visto na faculdade eles não tem uma matéria do tipo "Escreva respeitando minimamente a Língua Portuguesa", mas só "Azarar gostosas 1" e "Puxar assunto com o marombeiro 2".

Dias depois, volto ao lugar que se tornou palco constante do meu constrangimento. Dessa vez, aventuro-me numa aula de dança. A professora, ao notar a minha ausência de desenvoltura, perguntou se eu conheciA o passo básico. Fiquei ofendido com a suspeita dela, afinal, como eu não conheceria algo chamado "passo básico"? Respondi "oi?". Ela, então, pediu que eu ficasse no canto da sala, em frente ao espelho, repetindo incessantemente esse tal passo básico. Durante 1 hora e meia. Me senti tal como aqueles meninos esquisitos que na escola sentam no final da sala, comem cola, sofrem bullying até dos nerds e são escolhidos por último na educação física. Na hroa de ir embora, fui fazendo dois pra lá dois pra cá.

Como sou persistente, emendei uma aula de boxe. Depois de 50 minutos, não aguentava mais dar um soco sequer. Até porque era bem sem graça socar o ar, bem que poderia ter algum flanelinha, cambista, guarda de trânsito ou coisa que o valha como cobaia, mas não tinha. Discretamente, dirigi-me ao professor e comuniquei que iria embora, visto que não sabia mais o que era direita ou esquerda, muito menos gancho, cruzado e afins. Ele me olhou de cara feia (quase um pleonasmo) e nem me cumprimentou. "vou ficar com número ímpar, vai atrapalhar a aula", ele disse. Tão didático quanto um peão de obras.

Semana que vem, começo a aula de jiu-jitsu.

E comecei. Na verdade, fiz apenas uma aula. Bom, na verdade verdadeira, fiz metade de uma aula. Logo no início, o professor alinhou os alunos em duas filas de 6. Pediu para que cada um contasse até 10 enquanto fazia polichinelos... começando em fulano e terminando adivinha em quem? Quando chegou a minha vez de contar enquanto fazia polichinelos, não me aguentava nem mais em pé, imagina então fazendo polichinelos e contando. Demorei tanto que mais parecia um senhor de idade avançada que anda vagarosamente na frente dos outros num corredor estreito ou algum analfabeto que pensa uns 10 segundos de um número para outro, tipo quem soletra "vicissitude", "exceção", "miscelânea" etc.

Na segunda parte da aula, fizemos vários movimentos típicos da luta. Confesso que me senti bastante incomodado ao ficar em diversas posições quase agarrado a um homem no chão. Principalmente quando meu rosto ficava perto dos testículos ou do ânus do meu companheiro, digo, parceiro, melhor... nossa, qualquer termo que se use leva ao duplo sentido. Quando pedi para ir embora, após 1 hora de aula, ouvi o professor dizer "esse aí nunca mais volta". Pois é. O modo pelo qual fui tratado seria a mesma coisa que eu, um professor de Redação/Língua Portuguesa pedisse para um flamenguista recitar Camões ou ler Saramago. Além disso, ficar em posições tão íntimas com um homem não foi nada bom.

Depois dessa, não desisti, óbvio. Vou fazer balé. Só tem mulher na aula pelo menos. Porém, dessa vez, não precisa agarrar ninguém.