Não é a sua opção: É a sua natureza!

De vez em quando, republico este texto de autoria de Max Gehringer. O artigo fala do comportamento de um beija-flor, comparando-o com a conduta humana e os outros pássaros.

Vale a pena ler!

Eu tenho um amigo, o Lelo, que, quando era ainda criancinha, foi apelidado de “Beija-Flor”. São várias as hipóteses para a concessão desse apelido, mas a maioria delas diz respeito ao fato de ninguém se lembrar de algum dia tê-lo visto em estado de repouso. Ele está sempre fazendo um monte de coisas ao mesmo tempo. Frequentando tudo quanto é curso, pulando para lá e para cá e, acima de tudo, tendo ideias e dando sugestões. Como se ele sempre tivesse uma fórmula revolucionadora e sob medida para qualquer situação.

Um dia desses, chateado, o Lelo me contou que toda aquela sua boa vontade e disposição só lhe tinha rendido dissabores nas empresas por onde passara. O que ele chamava de “interesse” os outros viam como “intromissão”. O que ele entendia como “entusiasmo” os demais classificavam como “falta de foco”. Ele se achava “dinâmico” e todos diziam que era “dispersivo”. E por aí vai. Por casualidade, naquela mesma tarde bati os olhos num artigo sobre beija-flores. E, finalmente, decifei o Lelo.

Ao contrário das demais aves, que voam com o corpo na posição horizontal, o beija-flor quando voa mantém o corpo na vertical. Por isso, suas asas não batem para cima e para baixo, mas para frente e para trás. Parece fácil, mas não é: para conseguir essa proeza, o beija-flor bate suas asas 30 vezes por segundo. Tudo isso requer um enorme esforço: ele respira quatro vezes por segundo e seu coração bate 1260 vezes por minuto. É claro que, para manter tal vitalidade, o beija-flor precisa de muita energia. Ele consome, a cada dia, entre metade e três quartos do peso de seu corpo em açúcar. E é aí que vem o grande paradoxo dos beija-flores: nada menos que 80% da energia que eles produzem é gasta apenas para sustentar seu peculiar estilo de voo.

E esse é exatamente o retrato do meu amigo Lelo. A maior parte de seu esforço lhe dá forças para continuar se esforçando. Ele poderia, como muitos já sugeriram, arranjar um empreguinho bem tranquilo, passar o expediente sentado diante de uma pilha de papeis ou de uma tela de micro, piando só na hora certa. Assim como o Lelo, os beija-flores também poderiam pensar em dar um chega-prá-lá na natureza e implantar uma reengenharia radical em seu estilo de vida. Se um beija-flor aprendesse a retirar o néctar das flores de maneira mais produtiva (pousando na planta em vez de ficar batendo asa ao lado dela), ele reduziria sua carga de trabalho em 80%. Teria menos estresse, não sobrecarregaria tanto seu coração, poderia respirar mais calmamente e, provavelmente, viveria bem mais tempo do que vive.

Por que então o beja-flor nunca pensou nessa solução tão mais, digamos, cômoda? Porque então ele se transformaria num passarinho qualquer, e aí teria duas opções na vida: ou ficar trancado numa gaiola, piando em troca de uma raçãozinha de alpiste, ou viver uma vida de pardal, voando anônimo pela vida, sem despertar a atenção e simpatia de ninguém. Com o Lelo – e os Lelos em geral – acontece a mesma coisa: SER UM VOADOR INCANSÁVEL E, PRINCIPALMENTE, UM SONHADOR DETERMINADO NÃO É A SUA OPÇÃO. É A SUA NATUREZA.

Max Gehringer
Enviado por Fátima Burégio em 19/06/2013
Reeditado em 19/06/2013
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