FEITO NAS COXAS

Muito embora o título desse nosso texto seja bem sugestivo, ninguém vá pensar que irei escrever, aqui, sobre quem veio ao mundo como resultado de um incômodo “coito ante-portas”. Se verdadeiro, seria tão trágico quanto cômico, embora aconteça, nesse teatro maluco.

De qualquer maneira, tanto lá, quanto cá, o termo significa alguma coisa mal feita, que foi executada de maneira imprópria, sem cuidado ou que não deu certo.

No tempo da colonização, os portugueses trouxeram, da Europa, o hábito de cobrir suas casas com telhas de barro. Naquela época, não havia máquinas como as que hoje conhecemos capazes de produzir, a partir do barro ou argila, telhas perfeitamente iguais que permitem casamento adequado garantindo o escoamento eficiente das águas da chuva que desabam sobre as residências.

As olarias também não eram, ainda, difundidas como hoje as conhecemos. Assim, a capacidade humana para adaptação a situações novas permitiu o desenvolvimento de uma técnica bastante rústica, mas eficiente para a época.

A abundância de áreas com solo barrento, sobretudo nas regiões próximas aos cursos de água, possibilitavam a extração de material para a fabricação doméstica de telhas.

A maneira incipiente do fabrico resultava em peças moldadas sobre as coxas dos escravos e, como cada qual tinha um tamanho diverso do outro, as telhas, praticamente, tinham largura e comprimento desajustado, o que causava certa dificuldade na hora da montagem. Essa tarefa era bastante demorada em razão da necessidade de se proceder ao ajuste entre as peças para que fosse garantido o adequado correr das águas.

Por isso, o termo “feito nas coxas” foi associado a alguma coisa mal ajambrada, feita sem a uniformidade normalmente requerida.

Olhando, de relance, as pessoas que circulam ao nosso redor, certamente iremos identificar algumas delas bastante desarmônicas com relação ao normalmente comum. Todavia seria imprudência dizermos que foram feitas nas coxas, pois isso, nunca iremos saber. Até, mesmo, acho que nem elas sabem se foram, ou não, feitas dessa maneira insólita...

Amelius
Enviado por Amelius em 13/06/2013
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