PREDILEÇÃO

Paixão feminina. Ela devora, consome o agregado cardiovascular com infinita voracidade que são indistinguíveis os seus reflexos. É possível sentir ânsia de vômito, dor de barriga, bexiga apertada. Num piscar de olhos quer saber tudo, descobrir tudo, fazer tudo, responder tudo, perguntar tudo. Onde nasceu? Quantos anos têm? Gosta de música? Já leu Machado? Sorvete de maracujá? Café com leite? Já teve gatos?

É intrigante e excitante. Minha pele arrepia-se a cada letra que digito agora. Não está frio, o clima está ameno. O dia foi ameno. Minha vida está amena. Minha mente está amena. Queria te encontrar, queria te beijar, dizer o que eu sinto, o que sempre senti por você.

Aquelas palavras. Ah, as palavras...

Você nem imagina, eu sei. Mas as palavras que seus dedos dizem sempre soam espantosas para os meus olhos que anseiam ser elogiados. Vê-los dizendo o quanto eles são belos, o quanto o dono deles deseja a dona deles. Confusão. É exatamente assim que minha mente funciona quando me apaixono. Vê? Lê e compreende o que escrevo?

Quero te ver, preciso te ver. Mas não quero que seja igual sempre. Igual toda vez. Quero que desta vez você me abrace, me diga que me ama e que quer ficar ao meu lado para sempre. Desejo ouvir sua voz dizendo meu nome, ver teus olhos e suas pupilas exalando amor juntamente com sua respiração. Exatamente como eu sempre imaginei que seria.

O seu abraço caloroso eu quero sentir.

Anseio ler suas palavras referindo-se a mim, a mim somente. Quero que me escreva coisas doces, coisas quentes, coisas absurdas, coisas inteligentes, não importa. O indispensável é que escreva. Quero simplesmente saciar o prazer de ler alguma coisa sua sabendo que foi direcionada a mim com o coração aberto. Com o coração enamorado.

Apaixonei-me por palavras certa vez. Fiquei na expectativa.

No outro dia novamente.

E de novo.

E de novo.

Minhas palavras te encantam? Sei que não. Apenas deixe-me lê-lo.

Quero ler suas palavras. Quero que seja pra mim o meu dicionário, a torrente de palavras infinitas.

Quero descobrir seus verbos que indicarão suas ações, seus substantivos que indicarão seus projetos, sonhos e desejos, quero descobrir também seus adjetivos, pois eles me indicarão seus sentimentos, suas qualidades e defeitos. As interjeições e onomatopeias que adentrarão em nossas brincadeiras. Quero descobrir seus grafemas, seus morfemas, gramemas, todos seus dilemas e toda sorte de prefixos, radicais e sufixos que formarão nossos vocábulos, nossas frases, nossos textos dialógicos, casuais ou não.

Descreva-se a mim.

Decomponha-se em versos, metrifique-se, rime-se. Deixe-me sentir suas sensações e suas imagens simbólicas. Deixe-me te interpretar de acordo com o que já vivi e o que já sei. Ensine-me a compor, a rimar, a tecer a casualidade com simples palavras.

Se preferir, mostre-se em prosa. A preferência pela prosa não indicará se você é mais ou menos centrado. Quero apenas que apresente-se, narre-se, instigue-me, prenda-me. Prometo não julgar-te somente pela capa e nem avaliar-te pela folha de rosto, orelhas ou prólogo.

Não importa.

Só quero te ler, ler por inteiro. Fazer anotações. Enriquecer-me de você e guardá-lo em meu criado mudo, ao lado da cama. Ou melhor: quero que seja meu livro de cabeceira. Quero tê-lo ao meu alcance sempre que precisar.

Quero te devorar página por página, capítulo por capítulo.

Não é isso que se faz com os livros prediletos?

Alucy
Enviado por Alucy em 08/06/2013
Código do texto: T4330986
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