O destino das rezadeiras - A preocupação

Que mãos mágicas, místicas e milagrosas tinha dona Júlia, rezadeira da minha rua, no meu bairro, na minha infância, em minha pequena cidade, Colatina, no interior do Estado do Espírito Santo, quando eu subia, apoiado num cabo de vassoura, como um cajado, na maior parte das vezes com o tornozelo inchado, para que ela, costurando um pedaço de pano ou me benzendo com as benditas folhas de arnica, enquanto balbuciava as suas orações, incompreensíveis, só para me ver, moleque, descer com o pé já bom e tudo isso por dinheiro algum, somente para exercer o seu dom.

Era dom ou dádiva, não sei bem ao certo, só sei que era com muita fé.

Uma vidinha simples, numa casinha humilde, com os problemas que todos têm, mas com uma paciência incrível de sempre estar disponível, sempre que alguém precisasse.

Mal olhado, quebranto, espinhela caída ela curava e rezava, rezava, como se estivesse numa linha direta com Deus.

Eu nunca a esqueci. Médica parteira, curandeira e divina, mas não sei se ela preparou alguma menina para continuar a sua sublime missão.

Qual será o futuro das rezadeiras? Será o mesmo das esteiras, camas indígenas, substituídas pelo colchão?

Depois de adulto, quase idoso, aqui no bairro da ribeira, na cidade do Salvador, conheci dona Arlinda, também praticando o Santo Dom da Cura, por dinheiro nenhum, somente pelo prazer de curar.

Dona Júlia, dona Arlinda, como são lindas, por dentro e por fora e como o homem ignora o poder propagado por Jesus.

Levanta-te, Lázaro, pois você ainda tem muito o que fazer!

É enigmático, contraproducente e o que é bom para os carentes, pode não ter o mesmo valor para a saúde industrializada e crescente, onde o bem estar nunca esteve e nem nunca estará em primeiro lugar.

Foram-se as tribos e seus curandeiros e quando se forem as rezadeiras e suas besteiras (?), quem vai ficar em seu lugar? Sem a presença do menino Jesus, crescerá ainda mais a fila do SUS e sem o auxílio do Onipotente, o ser humano é ineficiente e como é que vamos fazer, para não ver, sol e lua, simplesmente como iluminação? Cadê a fonte de inspiração?

Se as passistas deixam suas seguidoras e se até as ideias fascistas são multiplicadoras, para onde vão dona Júlia e dona Arlinda e para onde vamos nós, quando a fé acabar? E onde vamos acordar?

Tomara que a coerência da teoria Kardecista esteja certa, pois mesmo antes que a ideia de sustentabilidade do planeta fosse o tema da moda, ela já nos atentava para a reciclagem, através da reencarnação. Que bom se for assim, mas o ruim é que, certeza absoluta de algo neste mundo, ninguém tem.