WALMOR CHAGAS EM SUA ULTIMA APRESENTAÇÃO
De repente o grande ator Walmor Chagas que estava fora dos palcos aparece para desaparecer, como se fosse sua última apresentação ao grande público... Uma tragédia à moda grega ou de Willian shakespeariana,em “Hamlet”: “Ser ou não ser”/ “Viver ou morrer”.
Depois de ter feito grande sucesso no teatro,(40 peças) na televisão(novelas),em filmes (20 ao todo), morreu aquele gaucho que conheci,casualmente,gente fina e culta, quando como repórter representava o "ESTADÃO", no antigo DOPS, na época de chumbo, no pós 1964, quando havia a caça às bruxas.No caso aí estava sendo apurado a participação de artistas de vários gêneros em atividades chamadas  anti-revolucionárias...Diga-se de passagem que a década de 60 e 70  onde pontificaram grandes artistas, especialmente no teatro,sempre com alguma audiência...e pouco dinheiro!
Quem cuidava desse inquérito dos artistas era um delegado chamado de Bonchristiano, que por sinal adorava  luzes e holofotes e o movimento no quarto andar do indigitado prédio, no centro de São Paulo, próximo a Estação Ferroviária da Luz, fazia ao entardecer sombra ao bairro do Bom Retiro, onde os judeus vendiam suas mercadorias,tranquilamente, ao lado dos primos libaneses,iraquianos,sírios,turcos ortodoxos e toda a geração do Oriente Médio.Viviam e vivem até hoje pacificamente!   
Pois bem o Teatro da Arena era alvo de investigação e consequente seus artistas e intérpretes. Esse Teatro da Arena pertencia aos irmãos Badra, um deles foi visitado por investigadores, e, um deles, observou curiosamente ao advogado Badra: “O Sr. tem muitos livros “vermelhos” nas prateleiras”, mal sabendo que a editora jurídica só fazia suas obras nessa “suspeitosa” cor...Esse fato, disse-me o dr. Badra mais tarde, quando estávamos num clube em Atibaia,bem depois do incidente,após passados alguns anos...ao tomarmos um drink,em momento de descontração.
Pois bem, foi lá que conheci Walmor Chagas,que estava dando apoio a Gian Franchesco Guarnieri,Cleide Yaconis(esta já falecida) e outros mais que foram ouvidos pelo delegado e logo dispensados.Tidos como suspeitos da esquerda,Guian Franchesco Guarnieri -a gente já sabia de sua tendência canhoteira “de carteirinha”...mas deixa para lá.
Ao sentar no sofá da sala , Walmor de terno e gravata, alto, cabelos brancos,gentil, como irmão e pai dos chamados “suspeitos”, sentou numa poltrona velha, onde uma mola engatou em seus fundilhos(nádegas) e aí ele deu um pulo, para voltar a ficar de pé novamente, dizendo, “eu não posso rasgar este terno porque ele é emprestado da empresa de filmagem”!! Não disse se seus fundilhos foram afetados , mas o medo era maior que tudo,naquele momento.Eu só observava. Foi aí que conheci essa grande figura nacional,tràgicamente desaparecida- imitou o teatro grego,certamente! Sófocles iria gostar do tema!! Adeus companheiro gentil  e líder dos artistas ao lado de Zimbinsky,outro monstro da dramaturgia brasileira. Em entrevista recente,tirado de sua solidão,num sitio na Mantiqueira, ele disse que não tinha medo da morte e que “morrer de acidente de avião seria a maior glória” e não ficar doente para tomar o tempo dos circunstantes. Assim era o Walmor...culto,superior,intelectual,não temente à morte...deu no que deu.