Mãe, gente como a gente

Minha mãe era uma pessoa muito prática: se a farinha era pouca, o pirão dela era o primeiro!

Não quero dizer com isso que ela era egoísta e não se preocupava com os outros, nada disso! Ela era uma pessoa boa, mas que não perdia tempo com rodeios e sentimentalismos. Fora criada por pais que a mimaram e estava acostumada a ser o centro das atenções; fazia parte de sua natureza.

       Por conta de sua praticidade, quando meu pai morreu, ao receber a notícia de seu falecimento, ela simplesmente disse – meu Deus, o que vai ser de mim? - sem qualquer palavra de piedade para o morto que havia sido seu marido por mais de cinquenta anos. 

       Os filhos, que estavam cheios  de rodeios  para dar-lhe a notícia, até se sentiram aliviados nessa hora: menos mal...

       Depois de muita indecisão se iria ou não ao enterro - ela era muito impressionável e enterros a amedrontavam - resolveu que iria.

       Ficamos temerosos, sem saber como ela reagiria ante a visão do morto, mas sua atitude foi peculiar: entrou na capela, postou-se bem junto ao caixão e exclamou  - bonito, heim, Raul? Que papelão! Morrer e me deixar aqui sozinha!

       Tivemos de segurar o riso, apesar da hora dramática...

 

                         RJ, 09/05/13

               (não aceito duetos, por favor)