CRIME E CASTIGO

Coisas bizarras vêm acontecendo no mundo do crime ultimamente. Depois da gangue das loiras, gangue das vovós e gangue mirim (dois meninos de doze anos liderados por outro de sete), veio a safra John Lennon. Três assaltantes com esse nome foram presos no início de 2013. Outro John Lennon foi assassinado no mesmo período. Se é uma reação em cadeia (e para a cadeia), ainda faltam três Beatles.

Enquanto eles não aparecem, aconteceu outra coisa bizarra em Mogi das Cruzes, São Paulo. Um ladrão morreu quando assaltava um posto de combustível no início deste mês. Ataque cardíaco fulminante. No último domingo a cena repetiu-se na Pampulha, em Belo Horizonte, quando dois malfeitores roubavam um carro. Um deles tombou na cena do crime. É, amigos, a profissão está ficando estressante.

Alguns já estão vendo a mão de Deus nesses episódios . Crime e castigo. Mas nada a ver com a obra de Dostoiévski. E, sim, com o Eclesiastes (‘tempo de matar e tempo de morrer”). Só que Deus não é tão óbvio assim. Não faz justiça por linha direta, ao contrário do que teria dito o hoje deputado Marco Feliciano, para quem o assassínio de John Lennon (o original) se deu por intercessão de Jesus Cristo, insatisfeito com a perda de popularidade proclamada pelo cantor. Portanto, Jesus teria agido por motivo fútil, por vaidade, eliminando o concorrente.

Delírios à parte, o fato é que tudo isso acontece numa época em que foi reaceso o debate sobre a redução da maioridade penal. Cada um tem sua posição. O governo é contra, mesmo diante dos recentes (e crescentes) homicídios praticados por menores sem lei e sem limites. Menores que podem votar, acasalar, gerar, viajar, trabalhar, receber salário, mas, quando matam, são apenas infratores. Não são assassinos, mesmo que completem dezoito anos poucas horas depois do crime.

Por isso é que eu não fico entusiasmado e, muito menos, esperançoso com essa “tendência” de o bandido – maior ou menor - morrer no exercício de suas funções. O meu receio é que, se a moda pega, o governo, inspirado no auxílio-reclusão e outros adjutórios que estimulam o ócio, institua uma pensão ou qualquer outro benefício em favor dos dependentes do marginal, que passa a ser a vítima, no caso (acidente do trabalho). Tudo para compensar a falta do butim que o operário do crime não pôde levar para casa. Ontologicamente, a pensão por morte do bandido em ação teria a mesma natureza jurídica do auxílio-reclusão. A mesma gênese. Ambos os benefícios derivam do crime. A única diferença é que, num caso, o autor está na prisão e, no outro, está no cemitério. Mas, em qualquer hipótese, o cidadão de bem, o trabalhador honesto, será chamado a dar a sua contribuição: seja diretamente ao beneficiário, debaixo de uma arma (dando graças a Deus se sair vivo), seja por intermédio do INSS, ajudando a pagar a pensão de seus dependentes.

Trocando em miúdos: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.

Eu não disse? Tudo muito bizarro, cara...

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 22/04/2013
Reeditado em 23/04/2013
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