O Poder Não Poderia Modificar Você

Eu e a minha família moravámos em uma modesta casa, os meus irmãos tinham um amigo que morava perto, sua casa era grande, luxuosa e sua família harmonizada, transmitia uma vida feliz, no entanto, Alvinho, assim o chamavam, vivia lá em casa, mesmo tendo em casa TV colorida, fazia questão de assistir aos jogos na Tv preto e branco da minha casa, era muito simpático e alegre, encantava a todos, com sua humildade, e jeito cativante de encarar a nossa pobreza. Passaram alguns anos, mudamos daquela rua, nossa vida financeira deu uma melhorada, pois todos nós agora já adultos, passamos a trabalhar e tudo corria bem, fazia muito tempo que eu não via o Alvinho, sabia que era advogado e que trabalhava em uma instituição federal. Certo dia, precisei resolver um problemão que estava acontecendo em uma ONG de uma amiga, fui a vários lugares e nada, até que numa manhã, já sem esperança de ver o problema resolvido, encontrei uma antiga vizinha,, que após eu contar o problema, falou: Por que você não procura o Alvinho ele rapidinho resolve isso para você. Eu toda constrangida afinal, fazia muito tempo que não o via, não sabia bem como ele ia reagir, mas fui assim mesmo. Ao chegar lá na instituição, perguntei ao pessoal da portaria qual setor trabalhava o Álvaro, ele indicou, e fui para o elevador com um misto de sentimentos, quando cheguei no andar, tinha uma grande mesa com uma secretária, eu perguntei: É aqui que tabalha o Álvaro? Ela muito natural respondeu: O doutor Àlvaro? Eu já tendo a certeza que estava no lugar errado, é... é, o Doutor Álvaro. Me identifiquei, ela pediu para eu esperar, entrou na sala, eu fiquei alí, muito arrependida de ter ido, eis que abre a porta e um homem de terno muito elegante com um largo sorriso grita: Taninha! Eu muito aliviada e feliz com a recepção respondi: Alvinho! Nos abraçamos sob o olhar espantado da secretária, ele pediu que eu entrasse e com muito carinho me ouviu e resolveu o meu problema imediatamente. Sai dalí com a certeza que existem pessoas que não mudam nunca, que uma vez um bom coração, sempre será bom coração. Bem isso eu pensava naquela época, pois algum tempo depois conheci o Hélder, esse sim, um grande amigo, aquele que estava pronto a ajudar, ouvir as pessoas, enfim, um verdadeiro irmão, lembro que chorávamos juntos, ríamos juntos, ele era namorado de uma amiga nossa, e isso nos aproximou mais ainda, juravámos que seríamos amigos para sempre, tempos depois, a vida nos afastou um pouco, fui para a faculdade, ele casou, enfim, cada um foi para um lado, porém ligavámos e nos encontravámos nos aniversários, e datas comemorativas, o tempo foi passando e abrí uma empresa que fornecia alimentos para empresas, fiz alguns contratos, mas ainda era pouco, quando por acaso encontrei a esposa do Hélder e conversando, contei o meu mais novo empreendimento, ela de imediato falou: Olha que bom, porque você não fornece para a construtora do Hélder, ele tem muitos contratos e você pode fornecer para as construções, eu fiquei muito animada e agradecida, afinal uma coisa dessas alavancaria a minha empresa.

Muito contente fui para a casa, contei para a minha família, com a certeza que era claro que meu amigo me ajudaria de imediato, na manhã seguinte cheguei em sua construtora, e pedi a recepcionista para falar com ele, depois que me identifiquei, ela respondeu que ele estava em reunião e que se eu quisesse falar com o senhor Hélder, teria que agendar um horário, eu meio decepcionada, mas tentando entender a situação, falei: Tudo bem, para quando pode ser agendado o horário, ela bem profissional respondeu: Na sexta feira da semana que vem, é o único horário disponível. Eu contrariando os meus príncipios respondi: Olha eu sou amiga dele, será que não daria para eu esperar a reunião acabar? Ela já impaciente, senhora, ele não atende ninguém que não esteja agendado, até a mãe dele, tem que agendar. Foi aí que o orgulho falou mais alto, pedi a ela que esquecesse que eu estivera lá, porém me fizesse um favor, contasse ao senhor Hélder, que o dinheiro e o poder matou um amigo nosso. Ela entendendo o que eu queria dizer se despediu, e eu desolada saí dalí, o mais rápido que pude. Pouco tempo depois a minha irmã encontrou a esposa dele, que contou que o Hélder tinha casado com uma mulher mais jovem e tinha abandonado a esposa e os filhos sem nenhuma assistência, ela inclusive, estava passando por necessidades, até de alimentos para os filhos, estava entrando com um processo, porém ele havia mudado de cidade, e não deixara nenhum contato, fiquei tão decepcionada que até hoje não acredito como pode o dinheiro mudar tanto uma pessoa, ou seria que ele já era assim e eu não percebia.

Tânia Suely Lopes
Enviado por Tânia Suely Lopes em 22/04/2013
Reeditado em 21/04/2015
Código do texto: T4253646
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