A VIDA POR UM CELULAR

Há pouco tempo eu mesmo fiz um poema intitulado “Quanto Vale Uma Vida.” E nele, falando da violência atual, banalizada, assim como a vida humana, eu dizia, questionava quanto vale uma vida, “um objeto qualquer, um par de tênis ou um aparelho celular ?” Pois no último dia 09, o Brasil todo ficou chocado com mais um crime dessa natureza. O jovem Victor Hugo Deppman, de 19 anos, estudante de Rádio e TV da Faculdade Cásper Libero em São Paulo, foi assassinado por um menor, com um tiro na cabeça, em frente ao portão do prédio onde morava com a família no bairro do Belém, na Zona Leste da capital paulista.

Imagens feitas por uma câmera do condomínio mostrou como o crime aconteceu. O jovem estudante chegava em casa à noite, por volta das 21h, vindo do seu estágio quando, no portão, foi surpreendido por um menor assaltante. Ele demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo, e mesmo não reagindo e entregando o seu aparelho celular, teve na sequência um disparo à queima-roupa, efetuado pelo assaltante contra a sua cabeça. O criminoso fugiu em seguida e o universitário ainda foi atendido pelo Serviço Móvel de Urgência (SAMU), e levado a um hospital da região, mas não resistiu ao ferimento.

Mas um detalhe chamou a atenção neste crime bárbaro. É que o menor que atirou, e tirou a vida de Victor Hugo, completou maioridade, ou seja, 18 anos de idade, três dias depois de ter cometido o assassinato. O mesmo acabou sendo denunciado pela mãe e por um irmão, se apresentou à polícia e já está detido na Fundação Casa; onde, segundo o delegado responsável pelo inquérito, o mesmo já cumpriu medidas socioeducativas anteriormente. O delegado disse também que apesar da pouca idade, o menor já é um veterano no mundo do crime e o mesmo tem consciência de que matou para roubar. Com o menor infrator foram encontrados também objetos roubados, além de armas e munições.

E sendo assim, mesmo ele se apresentando à justiça, como o crime foi cometido ainda na menor idade, ele vai responder como tal, podendo ficar recluso por, no máximo, três anos, conforme prevê a lei para menores. Salvo pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), ele sairá três anos depois com a sua ficha limpa, e como um cidadão de bem.

É a certeza da impunidade que então prevalece, e a banalização da violência, e do ser humano, e da vida como um todo, onde esta chega então ao absurdo de valer, e de ser mesmo trocada, ceifada, por um aparelho celular. Tudo isso, num país onde de menor pode votar, ajudar a decidir o futuro da nação, pode roubar, e até matar. Ma só não pode mesmo é ser imputado como tal, e assim responder à altura, proporcionalmente, pelos seus atos infracionais.