Abandono

E fiquei esperando no banco da praça enquanto papai sumia na esquina. Disse que voltaria logo, só iria ali comprar cigarro, pra ele, pão e leite pra mamãe e eu.

Era à tardinha e um belo crepúsculo enfeitava o céu. Misturei-me às cores, e não sei, não sei se anoiteceu ou se fui eu quem fechou os olhos e acabou por adormecer. Só sei que uma mão me sacudiu, então, despertei. O rosto não me era familiar, um estranho, não restou dúvidas. Ele só quis me alertar dos perigos que circulavam a praça enquanto noite, depois foi embora, e eu também, é que papai não voltou.

Tive que amadurecer depressa para comprar leite e pão para mamãe e eu, ou a vida me atropelaria. Mamãe coitada estava ainda mais enferma. Eu quase não dormia, só fazendo bicos pro gasto dos remédios. E todos os dias era a mesma peleja, mas, sempre passava por aquela praça. Um dia vi o homem que sumiu na esquina, fui até lá e ele me pediu cigarro.Atendi seu pedido. Depois disso, nunca mais o vi, deve ter morrido de câncer, perecido num banco de praça qualquer.

Não guardo rancores, ao menos me deu um presente; Fez-me contemplar um dos mais belos crepúsculos que vi na vida enquanto esperava, inoscente e sozinho no banco daquela praça!

Héryton Machado Barbosa
Enviado por Héryton Machado Barbosa em 20/04/2013
Reeditado em 17/07/2017
Código do texto: T4251005
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