Solidão

Lá estava ele, chorando e muito quando o ataúde desceu no buraco que parecia não ter fim para os nossos olhos, nunca imaginamos que esse dia chegaria. “Vou consertar”! Nunca imaginamos qual seriam as sensações desse dia. Até a noite anterior tudo estava dentro dos nossos planos, afinal esta hora e inevitável, e para ela foi muito merecida, pelos tormentos da demência e pela necessidade do reencontro. Ele homem forte, parecia que nunca desabaria, mas foi só sentir o abandono do ouvido amigo que lhe acompanhou por mais de cinquenta anos. Mesmo que atualmente ela nem mais compreendia o que ele dizia, afinal sua audição já estava servindo de apoio a outro amigo que somente ela via. Ela tinha ido embora. Isto o desarmou, e agora como lutar. Ficou sozinho na trincheira. Trincheira que ele tinha construído durante sua vida, sem amigos, sem movimentos, só com ela, e seus sonhos. E as suas estórias agora para quem contar, os filhos, que tudo sabem não tem tempo para suas velhas estórias repetitivas. Mas que para ele se tornava real em cada palavra contada com euforia. Proezas que lhe davam vida e empolgação a cada palavra pronunciada com a intenção de manter a sua vida em constante movimento. Mas como, se ele sempre foi de ficar sozinho sem muitos amigos, sem exatamente procurar algo de novo para gostar, admirar e fazer, somente lhe sobrou essas lembranças da vida. Sua vida da qual ele sozinho conseguiu torna-la difícil, pelo simples fatos de achar, que tem de ser melhor em tudo. E no final sempre se entrega achando que os outros são sempre melhores do que ele.

Antonio Ricardo Lopes
Enviado por Antonio Ricardo Lopes em 20/04/2013
Reeditado em 26/04/2013
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