Ande devagar

Rege o tempo a ansiedade do próximo ato, a que busca a página virada sem perceber em que parte paramos de ler as entrelinhas.

Não importa se a bailarina parou de dançar, desde que a dança te abrace e leve pra casa, não importa se o espetáculo fechou as cortinas, desde que o ato ou a cena te roube uma lágrima ou um riso.

Adormece a noite pra acordar dia e quem dorme menos se gaba de viver mais, os verdadeiros sonhos acontecem acordado, só percebe o invisível e sabe para onde vai aquele que fecha os olhos e alça velas esperando o vento inflar, não importa o tempo, o cronômetro, os sinos ou a vela acabando pra nos deixar em completa escuridão.

A velocidade ignora os detalhes, os retalhos, o significado dito na forma das coisas serem, a cor pulsante do vivo e o projeto do inanimado sempre pronto para representar algo, um momento, uma fotografia ou uma lembrança.

Enquanto você reclama do tempo te cobrando rugas, saia ver o tempo nas ruas em passos lentos, não justifique sua insensibilidade dizendo que "a vida tem pressa".

Nessa corrida, quem passa a chegada nunca mais volta. Devolva-se no tempo e contemple às milhares de razões para andar mais devagar.