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SE EU NÃO FOSSE QUEM EU SOU = EC
SE EU NÃO FOSSE QUEM EU SOU = EC
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SE EU NÃO FOSSE QUEM SOU = EC
SE EU NÃO FOSSE QUEM SOU = EC
Ás vezes me ponho a pensar como são diferentes os caminhos desta vida palmilhados pelos homens.
Se basicamente somos todos iguais, ou no mínimo muito parecidos, será que é opção nossa ser um cidadão culto, inteligente, respeitado ou um mendigo, pobre, idiota ou bandido?
Dizem que o homem é livre e, portanto responsável pelas suas escolhas, como se nos fosse oferecido um leque de caminhos para escolhermos livremente.
Será que é?
Seja lá como for eu estou aqui, sujo, faminto, desorientado sem encontrar um jeito de mudar de vida, mas, pensando bem, será que eu quero mesmo mudar de vida? Se eu pudesse escolher agora uma nova situação o que escolheria?
Vejamos.
Eu gostaria de ser o prefeito da cidade!
Podem estar certos de que eu faria maravilhas, faria tudo o que todo mundo sabe que precisa ser feito, menos ele.
Construiria casas confortáveis para os pobres, consertaria todas as calçadas, alargaria todas as ruas, e faria um canteiro de flores em todas elas, construiria excelentes escolas e creches para todas as crianças da cidade, contrataria profissionais competentes que soubessem resolver o problema das enchentes, da poluição, do trânsito, do lixo. Construiria modernos centros de saúde e hospitais onde toda população pudesse ser atendida gratuitamente com todo conforto e atenção, embora as doenças fossem muito raras, pois eu teria um sistema de saneamento cem por cento eficiente, Acabaria com o trafico de drogas, com os crimes de toda espécie.
Todos poderiam andar tranquilamente pelas ruas sem correrem o risco de serem assaltados. Construiria um abrigo para animais abandonados onde teriam alimentação e cuidados médicos, enfim, faria tudo que os candidatos prometem e acabam não conseguindo fazer e ainda daria um aumento significativo para todos os funcionários.
Seria respeitado, frequentaria os clubes de luxo e apareceria todos os dias no jornal ou na televisão.
Mas teria que andar bem arrumado,tomar benho, fazer a barba, cortar o cabelo e as unhas. Usar camisa, paletó, gravata, sapato, meia... será que eu consigo enfiar uma meia no meu pé? Até cueca teria que usar, porque, não sei, pois ninguém vê se estamos usando ou não ...
Já me acostumei na lambança e não me sentiria bem todo embonecado.
Teria que lidar com papéis, receber gente chata, ouvir reclamações...
Não poderia mais deitar no chão da calçada olhar o céu e sentir o sol ver as nuvens e a chuva caindo.
Beber cachaça no gargalo? Nem pensar! Teria que tomar uísque em copos de cristal. (será que uísque é gostoso?) e disfarçar os pileques, porque rico não pode ficar bêbedo, pode quando muito ficar “um pouco alterado.”.
Não. Prefeito, não dá.
Um jogador de futebol podia ser uma boa. Ganharia muito dinheiro, viajaria, conheceria o Mundo, ouviria a torcida gritar o meu nome cada vez que fizesse um gol...
Mas, se perdesse um pênalti seria vaiado e podia até acabar apanhando, sem contar os tombos, os machucados...
Não seria muito bom, não.
Industrial!
É, eu podia ser um industrial bem rico, igual esses de novelas que não fazem nada e o dinheiro jorra como se houvesse uma fonte inesgotável de dimdim derramando em cima dele
Mas com tanto dinheiro seria a mira dos ladrões que iam me assaltar, talvez espancar, matar.
Teria que me preocupar com a cotação do dólar, as leis trabalhistas, a taxa de juros, a declaração de rendimentos, os impostos, a sonegação, porque, segundo dizem, todo mundo sonega e dá jeitinhos em tudo para aumentar, ou, pelo menos conservar seu patrimônio.
É claro que há ricos honestos, mas, será que eu seria um deles?
Eu acho que quando Deus manda um cara aqui para a Terra já traça o seu caminho. A gente pode até tentar mudar de rumo, mas acaba percebendo que está andando em volta sem sair do lugar.
Se eu não fosse o que sou não seria eu mesmo, talvez nem existisse.
Deus me fez assim e por mais que eu queira nunca deixarei de ser o farrapo humano, como dizem os petulantes, sujo, fedido, pinguço, vagabundo, maluco, metido a escritor e mais ou menos feliz, como todo mundo.
Até qualquer hora!
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Se Eu Não Fosse Quem Sou
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