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LÉ COM LÉ E CRÉ COM CRÉ

 

 
      Conforme avalio, mas posso até estar redondamente equivocado, no mínimo, é muito extravagante o projeto de um vereador de Fortaleza que anda a propor a divisão de homens e mulheres nos transportes coletivos.  Ônibus, metrô e mesmo as alternativas vans, ou topics, teriam que ter exclusividade para os dois sexos. Quer dizer, de acordo com o nosso gênio da Câmara Municipal, tudo lé com lé e cré com cré.
 
      A dúvida, no entanto, ainda paira onde viajariam os que não se enquadram nesse tradicional binômio de gêneros. Aqui, coisa mais complicada, o provável é que nem Freud – com sua proficiência – explicaria.
 
      O tal edil do Partido Trabalhista Cristão (PTC), naturalmente paramentado de ideias fundamentalistas, acredita que, dentro dos coletivos, os marmanjos sem-vergonha se roçam muito nas mulheres, e este mau procedimento é de fato uma prática, o que, com certeza, na concepção lá dele, vereador, a safadagem constitui um tremendo pecado. Não sei se pecado mortal ou carnal, mas pecado, sim, senhor.
 
      Roçar-se um gajo no traseiro das moças, nos transportes de massa, é o velho, safado e conhecido expediente do pino. Assim, p i n a r é pôr-se o homem estrategicamente na retaguarda do seu sexo oposto e aí rascar, como quem não quer e querendo, as partes pudendas, na maior das safadagens.
 
      No caso em questão, o do projeto do vereador, já e já, nós precisaríamos era de ressuscitar o nosso saudoso e genial Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto, para que ele desse prosseguimento ao seu FEBEAPÁ, o “Festival de besteiras que assola o País”. Não tenho dúvida de que o Lalaw, nessa bobagem do senhor vereador fortalezense, iria carregar nas tintas, e com toda a força.
 
      Muito a propósito, claro que por uma questão muito peculiar, cultural, leio na seção “Semana” (ISTOÉ 2264, 10/4/2013, p. 26), o seguinte tópico sobre o Oriente Médio: “Hamas manda separar alunos por sexo, em escolas de Gaza”.
 
      Todos sabem dos esforços, no mundo inteiro, para encurtar as diferenças entre os gêneros. No movimento islamita, não estou a tomar partido por isso, mas prevalece o peso das tradições de cunhos cultural e religioso. Então, no caso específico do islamismo, ainda vá, não meto meu bedelho para reprovar a prática.
 
      Com a mão no governo da Faixa de Gaza, o Hamas (partido político) determina: “... meninos e meninas a partir dos 9 anos não poderão estudar na mesma sala”. E, ainda: “... homens não poderão lecionar para mulheres”.
 
      No território palestino, segundo está na revista, em nome da defesa das tradições, por intermédio do seu Ministério da Educação, o partido dominante justifica tudo enfaticamente: “Somos muçulmanos, estamos fazendo o que serve ao nosso povo e à nossa cultura”. Só que Hitler também pensava que fazia tudo o era bom para os alemães.
 
      Agora, sem bater pestana, comparem o estapafúrdio modo de agir islamita com a ideia tupiniquim do vereador do PTC: dividir os sexos nos transportes coletivos. Depois isto seria, quem sabe, aplicado a navios, aviões, clubes sociais, praias de nudismo, salas de aula, a exemplo do Oriente Médio, e por aí o brasileiro andaria.
 
      É risível, mas prefiro achar toda essa novidade muito exótica, esquisita e ridícula. Homem de Deus, por favor, invente de inventar outra.
 
      Entrevistadas sobre o projeto do tal edil fundamentalista de Fortaleza, mocinhas foram unânimes, acertando na mosca: “Dividir ônibus para sexos opostos não tem nada a ver. O que precisamos é de mais transporte para todos, homens e mulheres. A gente entra neles é como em lata de sardinha”.
 
      Voz do povo, voz de Deus. É!... Às vezes é assim, apesar de muitos votos, em cada pleito, serem jogados fora, no lixão. Ainda assim, viva a voz do povo!
 
Fort., 10/04/2013.
 
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 10/04/2013
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T4233447
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