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 A MORTE DO CÃOZINHO “TORCEDOR”
 
 
      Dia de clássico*, em alguma das duas principais arenas do futebol cearense. Aí, sem dúvida, para todo mundo apreciar, o bicho pega e pega é pra valer. Um jogo cognominado pela imprensa de Clássico-Rei, disputado entre Fortaleza e Ceará.
 
      A realização desse embate, entre as maiores equipes do Estado, com todas as letras e sem exagero algum, virou uma situação de guerra. Lamentável, tudo isso, porque esporte deve ser tido como esporte – uma diversão, um lazer, um passatempo – e não o fuzuê generalizado, a bagunça coletiva, na mais acertada das expressões.
 
      Toda vez que o
Vovô (Ceará Sporting Clube) e o Leão se enfrentam, ocorrem brigas e saem cabeças rachadas, dentro e fora dos estádios. Dizer brigas ainda é pouco, que são escaramuças, pedras comendo de esmola, coletivos e automóveis depredados, lâmpadas quebradas, chutes em portas de lojas, cadeiras do estádio esbandalhadas, terminais de ônibus sob a mira dos vândalos. E haja policiais para conter as animosidades.
 
      Lamentável tudo isso, mas não é privilégio nem demérito apenas da cidade de Fortaleza. Outro dia vi, num jornal, que, em Goiânia, quando se debatem os dois maiores rivais de lá, o clima pega fogo, vai-se à beira da histeria coletiva e a violência assume proporções astronômicas. Já sobe a inúmeros casos de mortes, no País, por conta do jogo de futebol. E atletas, também, se agridem.
 
      Todos sabem da rixa histórica, em São Paulo, entre palmeirenses e corintianos. O absurdo dos absurdos, pois um dia de jogo passa a ser totalmente dedicado à beligerância. E foi por isso que, aqui, na
Terra do Sol, deixei de frequentar os estádios.
 
      Meu último
match, a que assisti, seguramente foi ali pelos limiares da década de 70, quando arruaceiros – não torcedores – do Fortaleza, inconformados com um gol do Ceará, arrancaram a trave de um lado do estádio. E voavam pedras, zunindo como bala, e eu entortando o pescoço, para me defender, o que me fez nunca mais pôr os pés em um antro desses.
 
      Quando posso, e se a partida for televisada, vejo tudo do bem-bom do meu sofá. Também, no item futebol, penso que amadureci e tomei tento. Não mais torço, besta e burramente, como quando ainda era um moleque verdoso, que ia como sem falta a qualquer pelada do alvinegro, o nosso
Mais Querido.
 
      Outro dia, no último
Clássico-Rei, era um domingo, vi com estes olhos, pela tevê, o retrato da crueldade. Um cachorrinho, envolto em uma bandeira do Fortaleza, no populoso bairro do Montese, foi morto por algum infeliz não se sabe de que quebradas dos infernos. Se o bicho foi abatido por algum “torcedor” do Ceará, com certeza não era torcedor, mas o capeta em carne e osso. Doeu na vista ver o cão enrolado na bandeira e um senhor pardavasco com lágrimas nos olhos.
 
      Fiquei comovido com a cena; aquilo me botou em profundo sentimento de indignação. E pus-me a pensar que o infeliz assassino do cãozinho “torcedor” do
Fortaleza trucidaria igualmente qualquer ser humano. Além de desumano, o infeliz foi bastantemente covarde. Matou um animal que nada tinha a ver com o agir do seu dono, a mão que o embrulhou na bandeira do Tricolor de Aço.
 
      Com estes olhos, reafirmo o pleonasmo, vi lá, estendido ao pé de um poste, o cachorrinho tricolor, embuçado na bandeira do
Fortaleza. E, sendo simpatizante de um time opositor, não fiquei apenas cheio de indignação. Aquilo me deu foi uma raiva que me extravasou pelas ventas. Uma crueldade sem nome. Caso em que um demônio trucidou um bichinho bruto.
 
Fort., 23/03/2013.
 
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(*) Não falei da selvageria que houve nas cercanias do ESTÁDIO CASTELÃO, local do clássico, e tambem no terminal de ônibus mais próximo. Campos de guerra, com a polícia tentando apaziguar.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 23/03/2013
Reeditado em 23/03/2013
Código do texto: T4203412
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