A RODA DO TEMPO

Falta apenas uma semana para eu reencontrar meu amor. Ou seria melhor dizer que ainda falta uma semana? Isto é muito ou pouco tempo? Veja a força que têm as palavras. Enquanto o “apenas” encolhe a ideia principal, o “ainda” a espicha. Mais do que isso, observe como a noção de tempo é fluida, elástica, casuística. Relativa, enfim. Para o náufrago desesperado, um minuto é uma eternidade e pode representar a diferença entre a vida e a morte. Já para o trabalhador exausto, trinta dias de férias se escoam num piscar de olhos.

Aliás, tudo na vida é relativo. A beleza, a felicidade e o amor são assim. Tudo depende do momento e das circunstâncias. Até os bens mensuráveis, de significado unívoco, têm valor subjetivo. Mil reais na conta do milionário são apenas um número. No bolso do mendigo, é a prorrogação da vida. Beba água e você vive. Beba muita água, você se afoga e morre.

Mas a questão do tempo é a que mais instiga o ser humano, porque foge ao seu domínio. “Cada minuto de vida nunca é mais, é sempre menos” – escreveu Cassiano Ricardo. Você não segura, não pesa e não apalpa o tempo, mas está preso a ele. Tenta camuflar sua passagem com um creminho aqui, um botox ali, uma cirurgia plástica acolá, mas ele dá a volta por cima (ou por baixo) sem travar a engrenagem e sem sair dos trilhos. Dando a impressão que corre cada vez mais rápido. Ou que se arrasta, quando lá na frente um acontecimento feliz o aguarda.

Por isso, o segredo contra esse inimigo implacável é aliciá-lo. Se você não pode com o inimigo, alie-se a ele – ensinou Maquiavel. É o que faço. É um pequeno truque que exercito toda vez que meu encontro com a pessoa amada vai demorar. Funciona assim: eu transformo os dias em horas, as horas em minutos e assim por diante. Daí, a pergunta que eu fiz ali em cima, nas primeiras linhas:

- Uma semana é muito tempo?

Aplicando essa fórmula – para não ser consumido pela saudade -, eu respondo a mim mesmo:

- Que nada! Uma semana são apenas sete horas! Passa rápido.