Velhos Tempos.

Velhos Tempos.

Era uma manhã do mês de Junho, do dia não me recordo; a garoa fria e fina, os ventos vindos do Sul cortando os contornos do telhado da nossa casa meio estiorada, e quebrando o silencio daquele pequeno pedaço que com certeza fazia parte do grande mundo que existia lá fora, e que maninha de vez em quando nos mostrava ao contar suas histórias sem muita riqueza de detalhes. Se era colorido? Era sim; era colorido porque nós mesmos com nossa imaginação fértil, tínhamos o dom de colocar cores onde nos parecia acinzentado. Nossos invernos ali passados eram rigorosos frios e úmidos; a noite nós nos aquecíamos com velhos cobertores rotos, e durante o dia sem termos muito o que fazer, nós nos aquecíamos junto ao nosso velho fogão à lenha. Todo o resto da nossa casa era úmido e frio; até os quartos.

Na manhã daquele dia o movimento no entorno da nossa casa estava diferente dos outros, e nós não sabíamos porque; painho tinha se levantado muito cedo, e logo depois começaram a chegar pessoas vindas de outras partes mais distantes, trazendo seus animais carregados de tudo que se pudesse imaginar: jaca, cachos de bananas, cachos de coco, panacuns abarrotados de laranja, até animais; porcos, galinhas e ovelhas.

Minha irmã vestiu-se de coragem e saiu do borralho do fogão e eu a acompanhei; queríamos ver de perto o que estava de fato acontecendo. Nosso pai que não tinha animal para carregar sua carga acabara de chegar com um feixe enorme de cana nas costas, e com certeza lá embaixo no grotão de nossas terras ainda tinha muita coisa que precisava ser trazida para o nosso terreiro; aqueles que tinham chegado mais cedo com seus jumentos cargueiros se prontificaram logo a ajuda-lo; sabe quem eram os chegantes? Tio Zeca, tio Farés, tio Thobias, tio Berzelai e até vovô pai de maninha estava no meio deles; e era um falatório só; mais pareciam um bando de maritacas atacando uma roça de milho, eles eram assim barulhentos, mas eram nossos tios. E três deles com seus animais acompanharam nosso pai para buscar o que ele tinha deixado para trás. Até aquele ponto nós não tínhamos entendido nada; não era normal aquele movimento todo. De repente um barulho; um barulho estranho que mais parecia um estouro de boiada, como um trovão forte vindo de distante. Eu era um menino muito medroso, fui o primeiro que correu para dentro de casa, em seguida minha irmã; e nós fomos para a grande varanda e ficamos olhando pelo buraco na parede. O barulho foi ficando cada vez mais perto e o medo foi aumentando; que quando o monstro mostrou sua cara eu fiquei ainda mais apavorado. Era uma coisa que nós nunca tínhamos visto nem ouvido contar nas historias. Esse monstro azul com ninguém puxando e andando sobre grandes rodas, nada mais era do que um caminhão; fui parar debaixo da cama, enquanto os outros morriam de rir da minha atitude; qual seria a sua? Hoje eu tenho grandes saudades desse pequeno mundo; difícil esquecer, difícil esquecer..................

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 16/03/2013
Código do texto: T4191477
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