O zoológico e a floresta

Quando eu era criança havia na minha cidade a Churrascaria do Braz com um quintal grande e muito arborizado. Sob as árvores haviam gaiolas com tatus, raposas, cotias, papagaios e araras presas por uma corrente no pé. Passear naquela selva era nossa diversão predileta quando saíamos do colégio Presidente John Kennedy. Minha diversão favorita era acariciar a cabeça de uma arara muito mansa. Ela ficava quietinha deixando-me roçar a ponta dos dedos da cabeça ao pescoço dela.

Hoje voltei a minha cidade e o Braz não mais existe. Dizem que o IBAMA multou o dono e levou os animais para o jardim zoológico. Se eu quiser ver aqueles animais devo procurar um zoológico.

Visitei também alguns locais onde eu brincava de bang-bang e caçava passarinhos na mata fechada. Esses locais também não existem mais. As árvores foram substituídas por casas e asfalto. Os passarinhos saíram em busca do IBAMA para abrigá-los num lugar seguro, longe das estilingues e gaiolas da molecada. Algumas daquelas árvores estão no topo dos prédios, formando uma floresta particular.

Semana passada fui a um zoológico e encontrei uma arara. Ao ver-me desceu da árvore e esticou a cabeça para eu acariciá-la.

Ontem fui ao prédio de um amigo. Ele me levou ao jardim suspenso na cobertura para me mostrar sua floresta particular. Para minha grande alegria e surpresa na árvore estava desenhado - e ainda bem legível, um coração que desenhei com canivete e escrevi: Eu e você.

Se eu quiser ver um pássaro irei ao zoológico. Se quiser ver uma árvore irei a uma floresta particular. E se eu quiser encontrá-la? Aonde ir?