PRECISO DIZER QUE TE AMO!
Debruçou-se sobre o parapeito da janela e ficou olhando o garoto que corria e brincava entre pipas e carrinhos de metais, entre risos e gritinhos de alegria...
Que criaturinha tão frágil e ao mesmo tempo tão cheia de vida...
Não se cansava de ficar ali, por minutos incontáveis, num misto de admiração e zelo...
Vê-lo ao longe... Estava acostumado assim...
Não sabia quando foi que se separaram, nem se lembrava de quando o silêncio era motivo para obrigar-se a perguntar coisas rotineiras e ouvir monossílabos como resposta...
Amava tanto aquele garoto... Era confortável vê-lo em suas aventuras e brincadeiras...
Ficava olhando de longe, cheio de orgulho... Mas era difícil dizer que o amava...
E os dias passavam e mesmo próximos, sentia-se distante...
Nos filmes era tão fácil dizer: Eu te amo! E ali, olhando o garoto cheio de vida a sua frente, isso lhe parecia falso, mesmo com todo amor que sentia...
Um dia choveu muito...
Ele ligou a TV num canal qualquer, sentou-se no sofá e abriu um jornal...
De repente ouviu algo sendo arrastado pela sala...
O garoto arrastava uma grande caixa de papelão pela sala e ele parou para observá-lo...
De repente, o garoto, empunhando uma espada de plástico, o cutucou...
Pego de surpresa levantou os braços... Foi o suficiente para ouvir uma alegre gargalhada e logo em seguida ser feito refém e levado até a caixa de papelão...
Sem saber como, ele era o urso e o garoto, o caçador...
Ficaram se divertindo até o anoitecer...
E já não havia mais o silêncio exigindo palavras... Eram apenas pai e filho exercitando o amor...
Não foram necessários grandes feitos e nem mesmo poucas palavras...
Pai e filho se olhavam e sorriam cúmplices... Enfim, tinham uma história que só entende quem é o melhor amigo...