O encanto das águas do rio

Na beira do rio estou. Vejo suas águas tranquilas, pela correnteza levadas, correndo, sem pressa, pelo seu antigo leito que, hoje a mim parece, até, mais estreito. Por este rio, quando criança, não deixava apenas que suas águas límpidas, claras e doces, meus pés banhassem. Por suas águas, eu imaginava, por elas, navegar meus sonhos, naquela pequena canoa de esperança, que sempre, as suas margens estava.

Pelas mãos dos meus avós, todas as manhãs e fins de tarde, a Casa Grande, deixávamos. A passos lentos caminhávamos por um jardim que, a mostra deixava flores e rosas das mais variadas formas e cores, me enfeitiçando o olhar. Nas mãos traquinas, desde sempre, das rosas amantes, delicadamente, delas usufruía, beleza e perfume.

A natureza que já era tanta, parecia que não ser bastante... E, um pouca mais a frente, um pomar nos recebia, com seus frutos coloridos: manga, caju, graviola, pinha, mamão, laranja, maracujá e alguns poucos coqueiros, aos meus olhos, traziam alegria. e água na boca.

Cada dia amanhecido, cada tarde findando na " Fazenda Conceição" do meu avô, Quinzinho e vóvó Cristina, na zona rural de Serra Negra, do Rio Grande do Norte. eram sempre felizes. Quantas vezes, das mãos deles solta, saia eu correndo, descalça, cabelinhos compridos, escorridos e lisos, soltos ao sabor do vento.De braços abertos, ia eu, assustando borboletas que alçavam voos a minha chegada. Assim, desfrutando a minha liberdade como se não fora suficientemente livre, ainda me deixava ficar inerte, deitada na grama... olhos vidrados no azul do céu, em absoluto silencio, ali parada a espera que as nuvens, lentamente formassem figuras, que minha imaginação desenhava na mesa que tinha, a medida exata, da amplidão daquele céu, até, onde minha vista alcançava.

Quantas, vezes, não sei, pelos risos, brincadeiras, sorrisos e risadas das minhas irmães, primos, e primas, era afastada, dessa minha mesa de desenho imaginária.

E as águas do rio, continuam passando, como se o tempo, por elas não passassem. Como se a vida, eu, coisas, paisagens, não trocassem de lugar, que, pessoas, não mudassem. E, que o tempo, do passar das suas águas, tivesse espaço, para acomodar: o passado, presente e futuro.

Na beira do velho rio, no espelho das suas águas hoje,meu passado, refletido vejo. E, de tudo, só existem as águas do rio a correr em suas proprias águas... devagar, sem pressa, vai contrariando, o caminho da sua propria correnteza, trazendo de volta, o meu distante, passado.

Diante dos meus olhos, rio abaixo, espero, a saudade passar, mas, ela, não passa! Vai se agarrando aos seixos e pedras, aflita me acena, implorando, ser por mim, resgatada. E agora, eu a tenho aqui, impregnada na alma e, no coração acomodada.

Esta saudade, vai andar comigo como as águas desse rio e, lá bem distante, longe, muito longe, vai banhar outras terras, por mim, quem sabe, até desconhecidas. Depois, de algum tempo, o rio, vai perdendo sua identidade... e a água serena e doce, vai cair, nos braços revoltos e salgados do mar.

Josenete Dantas
Enviado por Josenete Dantas em 27/02/2013
Reeditado em 02/06/2015
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