O guardião da nossa língua

Ano passado participei da formatura de uma turma de Pedagogia. Fui homenagear uma moça muito querida. A festa foi linda e emocionante, principalmente pelo fato de ela ter lutado bastante para poder pagar o curso, pois vem de família com poucos recursos.

Tudo seria perfeito não fosse o fato de só terem tocado música estrangeira naquela festa. Fiquei mesmo muito incomodado e preocupado porque eram pedagogos enterrando a nossa fartura musical e aderindo a alguns lixos estrangeiros. Duvido que eles saibam cantar, ou a tradução, de uma música sequer. Ouviam ‘um som’, não ouviam ‘a música’.

A língua é um ser vivo e como tal está em constante transformação. A última transformação é o novo acordo ortográfico que os países de língua portuguesa tentam implantar, até agora sem sucesso.

Por ser organismo vivo, e para sobreviver e se aperfeiçoar, a língua está aberta a influências de outras paragens. Essa influência não pode sufocar nem suplantar a o idioma existente. Para defendê-lo precisa-se das ações das autoridades, dos formadores de opinião tais como jornalistas, escritores, poetas, astros da TV, de você e de mim. Com esse intuito, existe na Câmara dos Deputados um projeto de lei (PLC 50/2001) do hoje ministro Aldo Rebelo, que defende a língua portuguesa, proibindo o uso de palavras estrangeiras no nosso idioma.

Temos observado uma enxurrada de palavras estrangeiras em substituição as nossas. Não são palavras que não tenham concorrentes no português. São vocábulos que aparecem com a intenção de suprimir o nosso idioma. A continuar a invasão de estrangeirismo na nossa língua, em breve, muito em breve, seremos uma língua morta tal como aconteceu ao latim. A invasão dos estrangeiros está inundando o nosso vocabulário.

No Brasil não temos mais crianças, temos kids. Os moços não jogam um jogo nem andam de bicicleta, jogam um game e andam de bike. Os escritores não escrevem mais um texto, escrevem um paper. O Saci, o Caipora e outros do nosso folclore perderam lugar para o halloween.

Existe aqui em Brasília a emtrequadra 207/208 norte, conhecida como Rua da Informática. Lá todas as lojas, ou quase todas, tem nomes estrangeiros. Tem-se a sensação de estarmos andando numa rua fora do Brasil.

É assim, aos poucos, que seremos sufocados por outra cultura. Sei que não é tarefa fácil evitar essa invasão. O exército estrangeiro já está em nosso território e não será fácil enxotá-lo, nem se pretende. Mas se não começarmos, cada um individualmente, em breve levarão nosso almoço e nos deixarão um brunch, pegarão nosso café da manhã e nos deixarão um breakfast, comerão nosso jantar e nos deixarão um dinner. Se continuarmos “deitados em berço esplêndido”, esse estrangeirismo, saciado, se jogará nas nossas bed e terá um sleep profundo.

Para minha satisfação, dias depois daquela formatura dos pedagogos, o ministro Joaquim Barbosa tomou posse como Presidente do Supremo Tribunal Federal. A festa foi de grande destaque nos noticiários principalmente pelo fato de ele ser um negro vindo de família humilde. Naquela festa ele poderia fazer qualquer extravagância. E fez. Pediu que só tacassem músicas nacionais. Felizmente o menino Joaquim Barbosa não foi aluno daqueles pedagogos, talvez por isso ele tornou-se o guardião da nossa língua.