Cenário: Torre do Desespero

Ao extremo sul da floresta das trevas, depois de passar por um caminho largo e obscuro, encontra-se o que outrora foi um grande palco de batalhas sangrentas. No fundo deste funesto cenário, vê-se uma cadeia de montanhas dando a impressão de que algo misterioso o protege com seu próprio sangue. Quem sabe o sangue derramado dos cavaleiros seja tão somente sacrifícios em prol deste ser, ou seres, que ofuscam este lugar com tamanha desventura e escuridão. Ou então, seja apenas um mau presságio daqueles que ousam se aproximar do Coliseu desafortunado. Um lugar de podridão. A maldição o acomete, maculando o ar que o cerca. Seu negro céu parece esconder todo o mau que ali habita, abrindo frestas, deixando passar apenas alguns feixes de luz e os mensageiros da morte, que vem para buscar as almas dos amaldiçoados. Pobres diabos, condenados a batalharem até terem seu último suspiro arrancado pelos algozes que se regozijam ao enterrar suas lanças fundas nas almas polidas. Ferindo seus orgulhos, extraindo suas forças até que implorem por misericórdia e esta é negada com um sorriso sádico e indiferente. Um frio pernicioso cria uma névoa densa acinzentada que surge conforme vai se aproximando do que se chama a “Torre do Desespero”, nome dado pelos parentes dos que algum dia vieram para cá com a esperança de voltar e que jamais foram vistos outra vez. Após caminhar pelo último trajeto denominado “Vale das Sombras”, chega-se enfim ao tão solícito Coliseu. Diante de sua construção, avista-se toda uma estrutura em pedra negra maciça, com seus quarenta e oito metros de altura, envolvida pela espiral que complementa a grande escadaria de acesso ao topo. A cada degrau tem-se a nítida impressão de ouvir muitas vozes misturadas a lamúrias, implorando por clemência, gritos de dor, ganidos de desespero, e pavor dos guerreiros que foram torturados insanamente, adentrando a audição de um jeito enlouquecedor. O pavor toma conta dos que são fracos de espírito. Há que ser impetuoso para atingir o topo, e chegando ao anfiteatro, depara-se com o chão recoberto do mais puro necrochorume de várias eras de embates mortais. Caveiras destroçadas, cacos estilhaçados, espadas enterradas em cadáveres apodrecidos, cabos de machados, escudos enferrujados, pontas de flechas, espalhados pelo imenso solo, tudo encoberto pelo lodo e vegetação rasteira fazendo parte daquele recanto lúgubre. Séculos e séculos de aniquilamento desumano foram presenciados naquele lugar que agora está cercado por árvores melancólicas enroscadas nas paredes. Alguns dizem que o Coliseu chega a ser uma extensão do inferno ampliada, servindo para punir severamente qualquer um que se atreve por ali passar. Um lugar tão sórdido que se ouve até o som dos ventos tocando as muralhas frias, percorrendo lentamente como a navalha afiada do psicopata que corta sua vítima, sem dó alguma, se enchendo de prazer com tal ato, assoviando contente a canção da morte. Nem suas narinas serão poupadas, o cheiro insuportável apreciado pelos abutres, viaja até as profundezas de todo o vale, afugentando os seres que buscam se aproximar pelo caminho do rio negro. As criaturas noturnas e almas atormentadas fizeram suas arquibancadas como moradas.

Fabiana Alves Chaves Ferreira
Enviado por Fabiana Alves Chaves Ferreira em 05/02/2013
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