A Lição do Medo
imagem da web
Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião...
Pequeno mapa do tempo - Belchior
Dia desses estava numa fila e meu ouvido vira-lata "pescou" um pedaço de frase: “Quero, mas tenho medo”.Olhei para quem dizia isso e vi uma moça em pleno exercício de sua juventude e beleza numa conversa com outra tão bonita e tão jovem quanto. Não consegui ouvir mais nada mas fiquei imaginando o que amedrontaria alguém que me parecia tão autoconfiante?
Poderia ser mil coisas mas pensando na minha vida, assumo que também tenho medo. Da violência, do estado de barbárie em que estamos nos enredando, do culto a falta de valores, da desumanização, da banalização da vida, do que é capaz a ganância, a maldade e a inveja, de quem se compraz com a dor alheia,de perder quem amo, de me tornar triste e amarga e de muitas outras coisas mais... Sou, irremediavelmente, uma medrosa.
A meu favor penso que o medo me ensina e que acho saudável ter medo. Respeito esse sentimento que significa cautela, instinto de sobrevivência aguçado, precavido, ao mesmo tempo em que rejeito o medo que imobiliza, que rouba sonhos, destrói esperanças e impede as pessoas de, simplesmente, levar uma vida mais autêntica, mais saudável, mais amorável.
Em defesa dessa ideia, reafirmo que desconfio de quem diz não temer nada.Levar a vida como um camicase, sem preocupações ou nenhum temor por si ou pelo outro, sem nenhum cuidado ou proteção para as intempéries e percalços, avalio que não é nada saudável.
A busca pelo equilíbrio, em qualquer situação é, a meu ver, a atitude mais sensata para conduzir nossos passos, nessa dimensão. Se me tomam por desconfiada ou anacrônica, paciência. Acredito que ser assim tem garantido minha sanidade e mais precisamente, minha sobrevivência.
E enquanto pensava no que mais me dava medo, lembrei de uma música e cantarolei, como se canta um mantra: “Hoje o tempo voa amor/Escorre pelas mãos/Mesmo sem se sentir/Que não há tempo que volte amor/Vamos viver tudo o que há pra viver/Vamos nos permitir..."*
É isso.Para ser coerente com o que penso e sinto, afirmo que sou de sair de guarda-chuva e salto alto mas, vez ou outra, me permito dançar descalça entre os pingos que refrescam e embelezam o dia.
E mais uma coisa: ouso pensar e sentir sem medo.
*Fragmento da letra de Tempos Modernos, de Lulu Santos
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Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião...
Pequeno mapa do tempo - Belchior
Dia desses estava numa fila e meu ouvido vira-lata "pescou" um pedaço de frase: “Quero, mas tenho medo”.Olhei para quem dizia isso e vi uma moça em pleno exercício de sua juventude e beleza numa conversa com outra tão bonita e tão jovem quanto. Não consegui ouvir mais nada mas fiquei imaginando o que amedrontaria alguém que me parecia tão autoconfiante?
Poderia ser mil coisas mas pensando na minha vida, assumo que também tenho medo. Da violência, do estado de barbárie em que estamos nos enredando, do culto a falta de valores, da desumanização, da banalização da vida, do que é capaz a ganância, a maldade e a inveja, de quem se compraz com a dor alheia,de perder quem amo, de me tornar triste e amarga e de muitas outras coisas mais... Sou, irremediavelmente, uma medrosa.
A meu favor penso que o medo me ensina e que acho saudável ter medo. Respeito esse sentimento que significa cautela, instinto de sobrevivência aguçado, precavido, ao mesmo tempo em que rejeito o medo que imobiliza, que rouba sonhos, destrói esperanças e impede as pessoas de, simplesmente, levar uma vida mais autêntica, mais saudável, mais amorável.
Em defesa dessa ideia, reafirmo que desconfio de quem diz não temer nada.Levar a vida como um camicase, sem preocupações ou nenhum temor por si ou pelo outro, sem nenhum cuidado ou proteção para as intempéries e percalços, avalio que não é nada saudável.
A busca pelo equilíbrio, em qualquer situação é, a meu ver, a atitude mais sensata para conduzir nossos passos, nessa dimensão. Se me tomam por desconfiada ou anacrônica, paciência. Acredito que ser assim tem garantido minha sanidade e mais precisamente, minha sobrevivência.
E enquanto pensava no que mais me dava medo, lembrei de uma música e cantarolei, como se canta um mantra: “Hoje o tempo voa amor/Escorre pelas mãos/Mesmo sem se sentir/Que não há tempo que volte amor/Vamos viver tudo o que há pra viver/Vamos nos permitir..."*
É isso.Para ser coerente com o que penso e sinto, afirmo que sou de sair de guarda-chuva e salto alto mas, vez ou outra, me permito dançar descalça entre os pingos que refrescam e embelezam o dia.
E mais uma coisa: ouso pensar e sentir sem medo.
*Fragmento da letra de Tempos Modernos, de Lulu Santos