Alma de escritora

Mais uma noite e nada. Geralmente naquele horário elas me davam o ar da graça e uma a uma vinham como em cascata a me envolver. Já fazia uma semana a última aparição. Vínhamos nos entendo bem até então, mas do mesmo modo que chegaram foram embora. Assim de mansinho sem pedir licença me abandonaram. Mudei o cenário, coloquei uma música tranquila, li Machado novamente e nada. Deveria ser proibida essa ausência repentina, pois já faziam parte de mim. Todos os dias naquele mesmo espaço eu as procurava. De repente em meio ao devaneio uma resolveu se engraçar, apareceu como quem não quer nada. “Era”. Chamei outras e não obtive sucesso. Precisavam uma das outras para se completar, para terem sentido. Elas haviam mudado a minha vida. Quando juntas conversavam entre si, se combinavam e me surpreendia com tamanha harmonia. Agora estava eu ali, seguindo o mesmo ritual para recebê-las e nada. Elas precisavam acabar o que haviam começado. Pensei por um momento o que Machado faria em um momento assim, será que ele já sofreu esse martírio?

Um vazio abateu-se sobre mim. A minha alma estava inquieta, o corpo descansava, mas a alma não.

Desolado resolvi dormir.

Já quase dormindo, elas me apareceram. - “Era... uma... bela ou chuvosa ... manhã ou tarde ... de... outono ou verão...”. E elas conversaram e se organizaram.- “Era uma chuvosa tarde de verão...”. Levantei peguei meu laptop e comecei a digitá-las alegremente. Voltamos a nos entender enfim.

Leila Bomfim

Leila Bomfim
Enviado por Leila Bomfim em 30/01/2013
Reeditado em 13/03/2013
Código do texto: T4113892
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