Flávia e Adrielly

Flávia e Adrielly

Em 2008, foi instalada na favela Santa Marta a primeira Unidade de Polícia Pacificadora na cidade do Rio de Janeiro. Até setembro de 2012, com a UPP da Rocinha, já são 28 unidades. O objetivo era e é claro: desarticular quadrilhas que comandavam (ou comandam?) o crime organizado e o tráfico de drogas na Cidade Maravilhosa, que receberá importantes eventos nos próximos anos. Porém, são elas a solução para o problema da violência no Rio?

Não. Isso pode ser provado com a série de arrastões que ocorreu no Rio de Janeiro no final de 2010, quando bandidos incendiavam ônibus e carros. A população carioca ficou assustada, as ruas ficaram vazias. Como solução, houve a tomada do Complexo do Alemão, na Penha, Zona Norte da cidade, por polícia e forças armadas, pois, segundo as autoridades, os marginais fugiram das áreas ocupadas pela polícia para essa localidade. Isso serviu para mostrar que a UPP não é tão eficaz assim. Se os criminosos apenas mudam de lugar, o problema não está resolvido, visto que pode até se agravar com uma maior concentração de marginais em determinada região.

Após a ocupação armada do Complexo do Alemão, a paz parecia reinar na cidade. Porém, não é o que se pode observar na atualidade. Na última semana, dois casos de vítimas de balas perdidas chocaram os cidadãos cariocas.

Primeiramente, a jovem Flávia da Costa Silva, 26 anos, foi baleada dentro de um ônibus quando voltava do trabalho. Flávia era filha única. Em entrevista a um telejornal, o pai emocionou-se ao falar da situação dela. A mãe não foi diferente e também teceu severas críticas à política de segurança da cidade.

Dias depois, na noite de natal, a criança Adrielly foi baleada na cabeça, dentro de casa, logo após receber seu presente. Os pais da menina a levaram para o hospital Salgado Filho, no Méier, Zona Norte da Cidade, mas tiveram que aguardar oito horas até que se iniciasse o procedimento cirúrgico para o salvamento da filha. Segundo informações oficiais, a demora ocorreu devido à falta de um neurocirurgião ao plantão. Médico esse que justificou sua ausência alegando ter pedido demissão, mas vale lembrar que tal processo não é dos mais imediatos. Sendo assim, ele deveria estar presente no hospital ou deveria haver lá um substituto.

Deixando maiores detalhes sobre cada um dos casos em segundo plano, vale ressaltar que as duas tragédias só ocorreram porque não vivemos em uma cidade segura, muito embora o Estado e a mídia insistam em dizer o contrário. Chamar o médico faltoso de delinquente, tal qual o fez o prefeito Eduardo Paes (http://odia.ig.com.br/portal/rio/paes-chama-m%C3%A9dico-que-faltou-a-plant%C3%A3o-de-delinquente-1.529493) , nada mais significa do que tentar fugir da responsabilidade pela situação. Além disso, delinquente é quem disparou a arma de fogo cuja bala atingiu não só a menina Adrielly, mas também a jovem Flavia. Se a criminalidade não permite que as pessoas voltem em paz do trabalho ou que comemorem o natal de forma segura em casa, de quem é a responsabilidade? Se um hospital público não tem a estrutura para conseguir superar a falta de um profissional, de quem é a responsabilidade?