CIVILIZAÇÃO CRISTÃ, FESTA PAGÃ.
Sandra Fayad

Enfim chegou o verão no hemisfério sul e o inverno no hemisfério norte.  Como em todos os anos, desde o ano 532, é época de se comemorar a grande festa cristã, que começa cada vez mais cedo. Os eventos, revestidos de sofisticação e criatividade, parecem não guardar semelhança com as festas dos primeiros quinhentos anos da nossa era. Naquele tempo, os pagãos consagravam vinte e cinco de dezembro como o dia da celebração do natalis invicti, ou seja, o nascimento do “sol invencível”, também conhecida como festividade do solstício do inverno. A data permanece a mesma por decisão das autoridades da Igreja que, para dar um caráter cristão à celebração, passaram a chamá-la de nascimento de Jesus, ao invés de nascimento do sol, mantendo a tradição do evento popular. Assim sendo, ambas sempre foram comemoradas com muita festança e troca de presentes.
É importante lembrar que o espírito de solidariedade está consolidado no comportamento dos cidadãos, graças ao papel das Igrejas Cristãs que, através de suas pregações, desenvolveram nos fiéis a disposição para doar aos menos favorecidos aquilo que lhes sobra. Há os que fazem mais, doando a si mesmos a projetos sociais desde os do seu bairro até os de alcance continental, onde são beneficiados milhares de doentes e famintos.
No entanto, todos os anos a miséria no mundo é alvo de outras tantas milhares de reportagens, parecendo tratar-se de um problema insolúvel. Governos omissos, empresas que se enriquecem às custas da fome e da doença e guerras injustificadas fabricam mais infelicidades e apontam menos para soluções decentes de distribuição da renda global.
Parece-me que se tornou vã essa campanha permanente pela solidariedade. Os detentores da riqueza continuam fazendo sua festa pagã, de costas para os miseráveis. Empanturram-se do que há de melhor no planeta e deixam somente os ossos para alimentar os famintos. Lavam as mãos em bacias douradas e dormem em colchões de plumas raras, sem se incomodar com os que estão ao relento.  Recolhem os bens à disposição dos cidadãos que desejam minimizar o sofrimento de seus semelhantes, porque entendem que eles já têm o suficiente.
Entristece-me fazer parte de um mundo cada vez mais individualista, camuflado, mentiroso.
Fico com a impressão de que, em algum momento das pregações dos princípios do cristianismo, houve uma alteração de rotas e pegamos o caminho de volta às festas pagãs, que provavelmente eram revestidas de maior fraternidade.
Em meio às festividades e à troca de presentes, percebo a importância de uma nova ordem, em que prevaleçam solidariedade, transparência e o verdadeiro espírito do natal, em todos os trezentos e sessenta e cinco dias do ano.
Para isso, faz-se necessário que em todo o mundo haja vozes e mais vozes reclamando por melhor administração e distribuição dos bens que a Terra e a tecnologia disponibilizam para todos os seres vivos. É uma tentativa. Quem sabe dá certo?
Boas Festas!
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 06/12/2012
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