Bem-vindo ao Acre

Para evitar que você, caro leitor, evite a fadiga e deixe de ler esse texto, irei direto ao assunto. Tudo começou num avião com destino ao Cuiabá, capital do Mato Grosso. Quase no fim do voo, o piloto diz que já estávamos prestes a pousar. Porém, 15 minutos depois, nada de chegarmos ao chão chão chão. Assim, curiosidade e apreensão tomavam conta de todos.

De repente, eis que surge a voz do piloto no sistema de auto-falantes:

“Senhores passageiros, (pausa) por medida de segurança (pausa) tivemos que des-con-ti-nu-ar (pausa) os procedimentos para o pouso (pausa longa) porque houve uma mudança repentina no vento (pausa)”.

Quando uma pessoa solta a expressão “por medida de segurança” no avião, já pensamos besteira. Se ela o faz falando pausadamente, pior ainda. Depois, se ela usa os termos “mudança” e “repentina”, palavrões e nomes de todos os santos começam a ecoar pela aeronave.

Minutos e minutos passavam, e nada de o avião fazer menção de pousar. Mesmo com medo, tentei descontrair e disse:

“Ae, vamos cantar Mamonas Assassinas?!”

Quase apanhei da pessoa que estava ao meu lado.

Com a demora, começaram também as especulações:

“Acho que vamos descer em outro aeroporto ou em outra cidade”

Para um suburbano como eu, criado nas ruas da zona norte, o máximo de imprevistos que já havia vivido nesse sentido tinha sido as vezes em que o ônibus me deixou um ou dois pontos depois. Porém, quando é um avião que faz algo semelhante, aí fica tenso, né.

O meu receio era tanto que já imaginava o avião pousando numa pista no meio do mato, com uns bolivianos tocando aquelas flautinhas irritantes e com umas lhamas em volta. Cheguei até a cogitar pararmos no Acre, pois eu estava tendo alucinações e já estava vendo uma placa escrito “Bem-vindo ao Acre”, mas lembrei que a localidade não passa de uma lenda.

Acabou que descemos no aeroporto de Cuiabá mesmo, a aprazíveis 45 graus. Isso mesmo. A versão capital de Bangu.