O PREÇO DA ARTE
O PREÇO DA ARTE
(Texto extraído do livro: BOCAS DO TEMPO
do escritor EDUARDO GALEANO, página 164.)
A Europa havia tido a gentileza de civilizar a África negra. Tinha rasgado seu mapa e engolido seus pedaços; havia roubado seu ouro, seu marfim e seus diamantes; havia arrancado seus filhos mais fortes e os havia vendido nos mercados de escravos.
Para completar a educação dos negros, a Europa obsequiou-os com numerosas expedições de aviso e castigo.
No final do século dezenove, os soldados britânicos levaram a cabo, no reino do Benin, uma destas expedições pedagógicas. Depois da carnificina, e antes do incêndio, levaram o butim. Era a maior coleção de arte africana jamais reunida: uma enorme quantidade de máscaras, esculturas e talhas arrancadas de santuários que lhes davam vida e amparo.
Aquelas obras vinham de mil anos de história. Sua perturbadora beleza despertou, em Londres, alguma curiosidade e nenhuma admiração. Os frutos do zoológico africano só interessavam aos colecionadores excêntricos e aos museus dedicados aos costumes primitivos. Mas quando a rainha Vitória mandou o butim a leilão, o dinheiro foi suficiente para pagar os gastos de sua expedição militar.
A arte de Benin financiou, assim, a devastação do reino onde aquela arte havia nascido e sido.