Quartel Perpétuo

Adriana Quezado, natural de Fortaleza-Ce, sou escritora amadora. Publico o livro: "Coração Literário" e várias crônicas nos livros: "Antologia", “Travessias” e "Simplesmente Nós". Diplomada Professora. Participo de concursos em prol de seu reconhecimento como escritora. Publico textos no site Recanto das Letras, onde recebo bons comentários, demonstrando que a literatura é o meu lugar. Nasci em 23/10

Meu blog http://adriqazulaygmail.blogspot.com.br

1/04/11

Quartel Perpétuo

Ela era uma jovem linda. Tinha tudo para ser feliz. Qualquer pedido seu era atendido na hora, como se fosse uma princesa da realeza.

Já estava mal acostumada, mas foi criada deste jeito, o quê ela podia fazer? Reclamasse para seus pais que a mimaram desde o berço. Aguentem com a consequência se assim dela fizeram.

Todos os rapazes queriam tê-la em seus braços. Mas ela não queria nenhum deles. Talvez estivesse procurando um príncipe encantado ou já tinha encontrado e não queria apresentá-lo, por causa da reação de seu pai ou queria ficar no caritó, ou seja, sozinha. Cada um segue o seu caminho que traça.

Era a menina dos olhos de seus pais, principalmente de seu pai, que a via como a miniatura de sua esposa, quando por ela se apaixonou.

De repente, sua vida encantada mudou radicalmente da “água pro vinho” ou “vinho pra água’. Ela foi colocada presa no calabouço do “Quartel do Passeio Público”, pelo próprio pai. O quê ela tinha feito para merecer este castigo?

O sonho alado transformou-se em inferno calado.

Para chamar atenção, chorava, esperneava, gritava, ameaçava de se matar, mas não havia um herói para resgatá-la desse suplício.

Quando aparecia alguém, era só para alimentá-la, mas não havia palavras de conforto. A tristeza era tão grande que ela não comia, bebia e nem se penteava. Ela não tocava na comida, ficando fraca até desmaiar. Ela era reanimada e quando recuperava os sentidos, logo se abandonava à sua solidão.

Parecia uma “bruxa” de dar pena. Se pelo menos soubesse fazer feitiço para escapar dessa prisão que lhe impingiram. Nem isso era capaz. Estava sozinha no mundo, sem amigos, família. Disseram aos conhecidos que ela viajara. E cada informação era diferente uns para os outros para dificultar o seu paradeiro. Hora ela estava na America Central, América do Norte, Europa, Africa, China, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. O quê ela tinha feito de tão grave que merecesse esse castigo?

Tentava fugir, mas era ameaçada por uma espingarda, assim recuava e era mais uma vez encarcerada.

O pai, coronel do quartel, abandonou-a a “Deus dará”, como se fosse sua inimiga. Tinha esquecido que era a filha que tinha criado com todo mimo e amor.

Só ficava sabendo do seu estado deplorável, através dos relatos de seus soldados. Não se incomodava, pois achava que a filha estava se fingindo de coitadinha. Ela merecia esse corretivo. O quê ela tinha feito de tão grave que merecesse esse castigo?

. Mas a verdade era que a cada dia ela definhava: não tinha mais força para chorar, nem reclamar. Estava inerte à sua tortuta. Adormecia de cansaço.

Até sonhava que estava livre no seu Castelo Encantado. Ledo desvario, pois, quando acordava, retornava ao pesadelo real.

Foi assim até o último dia de sua vida. Só saiu de lá, direto para o jazigo da família.

Esta história foi contada de pai para o filho até o dia de hoje. Havia sol, chuva, estrelas, lua e o cantar dos pássaros como companhia, mas eles não entendiam o quê estava acontecendo com aquela jovem tão linda e desprezada que não tinha liberdade para seguir seu caminho, fosse ele qual fosse: direito, errado, norte ou sul, como se ela tivesse cometido um crime sem direito à “liberdade condicional”, ou era animal selvagem encarcerada numa cela ou jaula. Mas nesse caso, era no calabouço, sem defesa.

Estava totalmente incomunicável. E quem se atrevesse resgatá-la estaria em maus lençóis, podendo ser até expulso do quartel, sem chance de seguir sua carreira na marinha, exercito ou aeronáutica. Tinha que ser direita, esquerda, dando continência Sim, Senhor ,Coronel.

Caso contrário, eram todos presos em outro quartel bem longe da jovem prisioneira, que todos queriam em seus braços, mas tinham medo da reação do Coronel, que era mandante da prisão injusta da jovem.

O motivo da condenação foi passado de boca em boca, sendo interpretado como os ouvidos escutavam, confundindo os historiadores.

A verdadeira história está enterrada nos túmulos dos pais e da própria jovem.

Esta história se parece com o conto “Venha ver o pôr-do-sol” de Lygia Fagundes Telles. (Brasil, 1923). Será que o pai se inspirou nesta história ou foi Lygia Fagundes Telles que inspirou ou conviveu com a jovem.? "Venha ver o pôr-do-sol" é um conto com dois personagens: Ricardo e Raquel. Um é o vilão e a outro a vítima. Ricardo não aceitando a separação, resolveu enterrar viva, Raquel, sua paixão doentia. As duas histórias se parecem, enquanto no Quartel do Passeio Público, o mandante da prisão era o pai e, em “Venha ver o pôr-do-sol”, o executor do plano maquiavélico era o próprio ex-namorado. Os dois enredos foram coincidência da vida ou pura ficção? Será que o pai da jovem leu “Venha ver o pôr-do-sol”? Ou foi a Lygia Fagundes que soube desta história e inspirou-se para escrever: “Venha ver o pôr-do-sol”? Felizmente, ela está viva e pode responder como se inspirou para escrever esse conto. Adriana Quezado

Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus 2012.

IX PRÊMIO LITERÁRIO VALDECK ALMEIDA DE JESUS – REDAÇÃO E POESIA

Selecionada

AQAZULAY ADRIANAQ
Enviado por AQAZULAY ADRIANAQ em 13/11/2012
Reeditado em 13/04/2014
Código do texto: T3983554
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