O AMANHECER NA PRAÇA

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O AMANHECER NA PRAÇA

Andando pelo centro,

Antes de o sol nascer,

Vi uma mulher revirando a caixa de lixo.

Cabeça esbranquiçada, mãos sujas e envelhecidas.

Havia papelões na calçada em frente de algumas lojas,

E pessoas com carrinhos e outros com charretes,

Coletando aquelas caixas numa competição hidrófoba.

As pombinhas da praça se misturavam no amanhecer

Com os catadores já sujos do trabalho sobrevivente.

Elas voam entre prédios e a torre da Igreja imponente,

E desciam a toda velocidade junto àqueles que também na praça

Passaram mais uma noite de sono e de loucura cerebral.

As árvores de praticamente meio século,

Recebiam os ventos vindos do sul,

Com seus troncos inertes e majestosos.

Havia ao lado dessas estirpes cheias de vida,

Crianças com frio, chegando para engraxar sapatos,

Um ofício fora de moda, mas que eles ainda acreditam dar certo.

Juntos às pombinhas, eles brincavam, ainda brincavam!

Passou por ali um casal já bem idoso,

Pelas vestes e pelo olhar,

Bem sofridos e pobres,

Que caminhavam em direção ao hospital que atende pelo SUS.

Não demorou nada e o ar começou a ganhar uma fumaça de escapamentos,

Começou a mudar as narinas daqueles que usufruíam a praça.

O sol nasceu, o calor chegou,

A praça ficou cheia de gente indecisa,

Estressada, ansiosa... Ninguém conhecia ninguém.

Todos atrás de algo que eu não sei o quê.

Pena que isso é na nossa cidade!

Essa é a gente da cidade.

Essa é a cidade da gente.

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 01/03/2007
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