Às margens do rio Ipiranga EC

Quando ouvi a história da nossa Independência pela primeira vez fiquei emocionada! Tinha apenas 9 anos e foi a professora de 3º ano quem nos contou, na aula de história.

Durante o regime militar, época em que eu estudei, dava-se um grande valor a tudo que simbolizava e pertencia ao Brasil: o Hino Nacional, A Bandeira, o Brasão. Ai de quem não soubesse os hinos corretamente...

Era gostoso ouvir todo mundo cantar, diante do Pavilhão Nacional, no dia 7 de Setembro: “ Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil, ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil” .

Havia desfile cívico. A gente ficava admirada...

Dona Ivete, minha professora, lia com civismo e cuidado a nossa história oficial. Eu me lembro da foto que ilustrava o capítulo sobre a Independência (a mesma que enfeita o Encanto das Letras): os cavalos demonstrando tanta força, músculos em movimento sincronizado e belo, parecendo um balé, os soldados com suas espadas destemidamente empunhadas, a bandeira, o grito. Imagem impressionante. Faziam parte da paisagem outras pessoas, anônimos e simples camponeses, que por ali passavam e observavam a cena, desarmados e despreparados, com suas carroças velhas e cavalos tão franzinhos... Havia um ipê amarelo atrás da casa e um pedacinho do rio tão limpo.

Eu me encantava com a história dos heróis, sem me dar conta de que, quem constrói a verdadeira história de um país somos nós, foram eles, e serão os tantos heróis anônimos que não têm um nome importante e não são protagonistas nos livros.

Às margens do rio Ipiranga, quem assistia a cena nem sabia o que estava acontecendo. Os excluídos e desinformados da História Oficial.

Há pouco tempo pude ver de perto este quadro no Museu do Ipiranga. Era o mesmo do meu livro do grupo escolar, mas agora, eu já sei bem mais sobre a história da Independência e percebi que ela foi contada por alguns, mas vivida por muitos.

Aliás, a maneira como tudo está distribuído dentro do museu mostra bem a realidade da sociedade brasileira da época (será que esta realidade mudou?): no 1º andar está a realeza; no térreo a nobreza e no porão a senzala –onde estão retratados aqueles que, com seus braços fortes, fizeram a riqueza de poucos e da nação.

Lembrando do meu tempo de estudante, foi uma época difícil, mais silêncio que palavra, todos os deveres e nenhum direito, entretanto tínhamos respeito pela nação, pelos pais, pelos professores, pelos idosos. Podem achar que sou saudosista. É que hoje percebo que os brasileiros perderam uma pouco disso e, na escola, o Hino já não emociona mais, a não ser na Copa do Mundo ou nas Olimpíadas, quando ganhamos alguma medalha de ouro!

Quando penso no futuro, não perco a esperança: haveremos de viver a verdadeira INDEPENDÊNCIA num país livre da injustiça social, da corrupção desmedida e descarada e da pior de todas as mazelas – a impunidade!

Terra adorada; pena que nem todos os seus filhos a tratem com dignidade e amor. Ímpias falanges!

Quero e luto para que nosso país seja administrado por pessoas que consigam governar com coerência, dignidade,solidariedade, honestidade e justiça. Aí, sim conheceremos o verdadeiro sentido da palavra Independência, sem morte!

Brava gente brasileira que acorda cedo e conquista o pão de todo dia.

Nós, filhos desta pátria amada, comemoramos:

Salve 7 de Setembro!

Brasil! Dos filhos deste solo ainda és mãe gentil.

(Ainda fico emocionada).

Mariacris
Enviado por Mariacris em 04/09/2012
Reeditado em 12/07/2013
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