Dia dos Pais

Esta é uma data que foi criada em boa hora.

É uma maneira de fazer lembrar, de alguma forma, àqueles que nunca se lembram dos pais, ou mesmo de irmãos mais velhos, que na falta do pai ainda são o elo da família.

Mas chegando o dia 12 de agosto de 2012 percebi que minha intuição estava certa. Tendo um vasto circulo de amizades, mesmo fora da família, não recebi um voto de felicitações pelo dia. Mas eu acho que compreendo um pouco da mentalidade humana. E acho até normal que isso aconteça, pois quem está disposto a cumprimentar os outros e deixar de lado o carinho e o amor de sua própria família?

Entretanto, a mensagem que eu esperava chegou. Até duas vezes naquele dia. Era do meu filho Luciano Fernando que me ligou de Denver, nos Estados Unidos. Mensagem que me emocionou, pelas belas palavras ditas, e realmente me encheu de otimismo especial, pois sou um otimista de carteirinha.

E ai isso me fez lembrar um senhor, morador de rua, que encontrei certa vez nas imediações do mercado municipal. Ele me disse: “Entre todas as pessoas que estão aqui esperando ônibus, percebi que o senhor seria o único que iria me tratar como uma pessoa normal”. Para descrevê-lo era fácil: Roupas amassadas, mas não sujas, tinha uns 60 anos, era baixo, mulato e com barba preta quase normal. Tinha uma educação que mostrava uma instrução muito elevada. Ele ainda me disse:

“Eu quero lhe pedir 2 reais para completar o valor para a compra de um marmitex, que dividirei com um jovem que não sabe pedir, pois quando eu cheguei aqui ele não comia nada há 2 dias. Ele tem problema de timidez, deve ser de infância”.

Ele completou: “Não vá ficar com pena de mim. Eu já tive família, filhos e trabalho. Mas hoje estou muito longe de tudo isso. Prefiro o convívio com os irmãos de rua à falsidade, muitas vezes, de um lar. E pode ter certeza, o senhor nunca estará sozinho. Agradeço, não tanto pelo dinheiro, mas por me ouvir com muita atenção, como igual e não como um morador de rua”.

Ele foi embora e o meu ônibus também estava chegando. Ainda o vi, a distância, mais uma vez.

Então, quando despertei na manhã do dia 12 fiz uma prece, primeiro endereçada ao meu filho Luciano Fernando, lá em Denver, depois a todos os meus parentes e também a todos os moradores de rua, que não tem dia dos pais, não tem Natal e nem Primeiro do Ano. E o mais triste é que já não tem esperanças de dias melhores.

Pai, olhe por todos nós.

Laércio
Enviado por Laércio em 28/08/2012
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