As Escrituras, os princípios e as bandeiras cristãs na sociedade

Se as Escrituras são uma pequena parte da revelação de Deus, através da escrita aos homens, conhecendo o plano da salvação, é óbvio que existem valores, inclusive para o convívio social e cotidiano. Ela pressupõe bandeiras centrais como o amor ao próximo e o combate à injustiça.

Se vivemos em uma sociedade, somos portadores de valores. E as Escrituras (Bíblia) expressam um conjunto de valores e princípios. Conceitos que, por vezes, são bastante disputados, desde a teologia fundamentalista até a teologia inclusiva.

Seja como for, quando se afirma que as Escrituras não carregam valores ou bandeiras, significa rejeitar por vezes o que há de mais progressista. Isto significa, na prática, um escapismo capaz de esconder a visão conservadora de sociedade e de mundo, a partir da preocupação egoísta de salvação individual.

O princípio de "amor ao próximo", quando presente no dia a dia, interfere em posições, por vezes, radicais - inclusive à contramão do "modus operandi" do sistema. Por exemplo, Jesus Cristo, mesmo na condição de Filho de Deus, enquanto homem, conviveu com homens, transmitindo as Boas Novas. E estas, querendo ou não, subverteram radicalmente a realidade social de pobres e setores marginalizados, até então excluídos por uma aristocracia religiosa judaica, que prezava pelo cumprimento das Leis, mas não a aplicação dela para a transformação de vidas e da própria sociedade.

Não seria um posicionamento político de Jesus a postura dele de justiça em relação a Zaqueu, em Lucas 19:01-10, evocando os valores de justiça e ética? Ou a defesa da separação entre os valores religiosos com os do Estado, em Mateus 22:21? Ou a do amor ao próximo como a si próprio, em Mateus 22:36-40?

Poderia delongar inclusive sobre as questões relacionadas aos questionamentos fortes sobre a injustiça social, denunciadas pelos profetas Isaías, Jeremias, Amós, além de questões presentes no Novo Testamento, de forma bem clara à Igreja Primitiva, em Atos, e nas demais Cartas Paulinas e Cartas Universais.

Se valores são princípios e princípios são bandeiras, as Escrituras estão carregadas delas. Seja para quem tem ótica de âmbito conservador ou mesmo progressista, à luz e ao crivo da Palavra.

Ou até, em outra hipótese, para alguns usarem dela para esconderem seus posicionamentos ideológicos.