MUDANÇAS...INGRATIDÃO?

MUDANÇAS...INGRATIDÃO?

Neste instante, enquanto escrevo, estou aguardando a chegada do novo fogão e da nova geladeira, aqui para casa. Então, veio em minha mente, algo assim como um sentimento de ingratidão. Por que? Esses dois entes queridos, partes integrantes desta casa, de um bom tempo de convívio, estão prestes a irem embora. Ficaram aqui, neste meu lar abençoado, prestando seus serviços, sempre solícitos, sem nunca sequer reclamarem, incógnitos, sem exigirem qualquer tipo de contraprestação. Enfim, fiéis servidores! Há uns 20 anos!

Engraçado! Como posso, depois de tantos anos, simplesmente, sem qualquer tipo de justificativa para eles, de modo abrupto, esquecendo tudo o que fizeram, descartá-los, mandando-os para um lugar que nem sei onde fica?

O fogão, coitado, aguentando todo tipo de trato, esquenta, esfria, acende, apaga, sem dar um pio, sempre obediente, contribuindo para o sustento de toda família. Contribuindo na feitura dos mais deliciosos pratos, fazendo a alegria dos filhos, noras, genro e netos, nunca reclamando de nada, sempre no seu canto, como se um mordomo ou maitre fosse, aguardando ordem do amo ou do comensal.

Lembro-me, perfeitamente, do dia em que aqui chegou. Foi recebido com os maiores elogios, homenagens, “nossa...como é bonito”. E, durante um bom tempo, foi assim tratado, como uma jóia. Na realidade, ele sempre teve um bom tratamento, pois dona Iara, exigente como só, nunca deixou de cuidar de sua limpeza, de sua conservação. Disso ele, jamais, poderá reclamar! Ultimamente, a bem da verdade, houve uma queda em seus serviços. Uma boca deixou de funcionar, um botão não parava mais no lugar e, mesmo com a vinda de um técnico, ele já dava sinal de cansaço, demonstrando a necessidade de ser aposentado. Sei lá, é capaz de, no novo lugar para onde for, ser mais exigido. O novo proprietário poderá ser um tirano, violento, sem escrúpulos, não respeitando sua idade, seu passado! Nem pensar! Não quero, jamais, que qualquer coisa de mal aconteça a esse tão bom amigo! De tantos anos!

Já a geladeira, mais chique, conhecida hoje como refrigerador, sempre teve um tratamento mais suave. Pudera, feminina, não poderia ser de outra maneira. De porte mais charmoso, sua presença no ambiente de trabalho era bem mais notada. Alta, físico avantajado, porém, esbelta, sua utilização foi bem mais amena, não tão sujeita às intempéries como o seu companheiro inseparável. Mas, sua participação em nossa vida, também, foi de notória importância. Como deixar de, no verão, saborear uma cerveja bem gelada, ou o refrescante refrigerante? E a conservação dos alimentos?

Porém, o tempo, para ela, também foi ingrato! Já não fechava direito e, quando de sua aquisição, não havia o “frost free”, o que acarretava, volta e meia, a necessidade de desligá-la para o degelo e executar sua limpeza. Igualmente, fazia por merecer a aposentadoria.

Deus queira que seja, para onde for, bem tratada!

Aguardo, sinceramente, com muita dor, o momento da despedida. Como, sinceramente, agradeço-lhes, com todo carinho, tudo o que fizeram por mim e pela minha família. E desejo que, em seus novos destinos, continuem como sempre foram, e bem tratados, pois, só assim, terei eu, pelo menos, a paz e a alegria de não ter cometido a indesejada ingratidão!

Que sejam felizes!

“Adeus, adeus, adeus,

Cinco letras que choram...”

ESCRITA EM 08/2010

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 27/08/2012
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