BAR DA SAUDADE

BAR DA SAUDADE

(...Veio os home cum as

ferramenta, o dono mando derrubá...)

(Adoniran)

Bares existem às centenas, para não dizer mais de mil, em Santo André. Assim como bar, muitos outros estabelecimentos existem. Porém, convenhamos, nem todos se perpetuam. Nem todos se tornam pontos de referência. A grande maioria, na verdade, nasce, cresce até, vive durante anos e anos, e, se por acaso vier deixar de existir, sequer sua falta é notada pela população. Porque, apesar de ter cumprido suas finalidades, o fez de modo a não causar impacto, não construiu uma base que o tornasse inesquecível, a ponto de sua ausência causar qualquer tipo de reação, positiva ou negativa. Não vou citar exemplos de estabelecimentos como esses, em nossa cidade, com o intuito de evitar qualquer tipo de constrangimento perante seus proprietários. Mas, “pero que los hay, los hay”.

Como estava dizendo no início, há uma enormidade de bares na cidade. No entanto, poucos, muito poucos, teriam o condão de causar tamanha sensação de perda, em caso de deixar de existir, como o Bar da Saudade. Infelizmente, ele acabou. A bem da verdade, não fui seu freqüentador, apesar de, desde a mais tenra idade, desde que me conheço por gente, vê-lo com muita simpatia. Mesmo sendo seu vizinho, na Vila Assunção. É que, quando atingi a idade de ser comum frequentar esses lugares, havia mudado de lá, vindo morar mais no centro de Santo André. Nem por isso, entretanto, deixou ele de representar algo para mim. Conheci alguns de seus donos, inclusive os Casimiro, que, salvo engano, foram os primeiros; os irmãos Pedro e Nicola Rubertoni; o Pedro De Nadai, que, segundo consta deu o nome Saudade, e seus filhos Euvaldo (o Caqui) e o Jurandir. Era comum a existência de canchas de bochas nos bares. Durante a direção destes últimos, isso por volta do início dos anos 40, as do Bar da Saudade (duas) foram cobertas, sendo as primeiras em Santo André, a receber esse benefício. Informação do Jurandir De Nadai.

O Bar da Saudade, apesar de localizado em um bairro, extrapolou os limites da fama, sendo conhecido e respeitado por toda a cidade. Por quê? Localizado na esquina das ruas Guilherme Marconi e Joaquim Távora, ficava ele no trajeto de quem se dirigisse ao único cemitério da cidade, o da Saudade (daí seu nome). Naquele tempo, os cortejos fúnebres eram realizados a pé, em sua grande maioria. Nem preciso dizer, então, que o bar tornou-se parada obrigatória dos acompanhantes, após o enterro. Seja para um refrigerante, uma água ou qualquer outra finalidade... pois ninguém é de ferro! E, como raramente, não passava um dia sem enterro, dá para se imaginar o número de pessoas que ficava conhecendo-o. Como conseqüência lógica, acabou ele tornando-se ponto de referência do local.

- Onde fica o cemitério? Sobe a Guilherme Marconi até o Bar da Saudade, e vira à esquerda!

- Onde é o hospital Cristóvão da Gama? Pega esta rua, é logo depois do Bar da Saudade! E, assim por diante...

Em toda sua existência, de mais de 72 anos, quantas e quantas gerações teve ele de assíduos freqüentadores? Umas quatro, suponho.

Bar da Saudade! Ele já não existe mais! Uma pena! Vai se transformar em pizzaria e lanchonete, pertencente a uma rede de padarias da cidade.

Então, por que não introduzir, como homenagem, em seu futuro nome...Saudade?

PS- Escrita em 2010.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 06/08/2012
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