Massada nunca mais cairá!

Depois de breve silêncio, volto a falar de nossa excursão a Israel. Nosso pequeno grupo – trinta e três bravos peregrinos, acompanhados do guia turístico da operadora israelense, Gênesis Tours, Salo Kapusta, e do pastor Miguel Madeira, seu representante no Brasil – subiu os quatrocentos metros da memorável Massada, para conhecer-lhe a intimidade e a história de heroísmo e determinação de um povo sofrido, escolhido para perpetuar os fatos narrados no Velho Testamento.

Enquanto vencíamos as alturas, imaginávamos a vida difícil dos habitantes daquele árido deserto. O sol inclemente, a baixa umidade do ar e as intempéries diárias, por certo, martirizavam seus corpos, exaustos do trabalho inglório.

Do teleférico que nos transportou pelas íngremes escarpas, avistamos peregrinos que subiam e desciam a pé, sob o causticante sol oriental. Aos poucos, chegamos ao esperado destino.

O escritor judeu, Flávio Josefo, em seu livro "A Guerra dos Judeus", descreveu a localização geográfica da impressionante fortaleza, objeto de nossa visita vespertina, ocorrida em 11 de maio de 2012. Vejamos o que nos diz o notável escritor judeu:

"Havia um penhasco grande e muito alto, de forma circular, cercado por vales tão cavados, que os olhos não lhes podiam ver o fundo. Sobre esse morro o sumo sacerdote Jônatas edificou, a princípio, uma fortaleza a que chamou de Massada. Herodes, por sua vez, construiu-lhe em volta uma muralha, no alto da colina. Sobre a muralha edificou trinta e oito torres, cada uma de cinquenta côvados (aproximadamente 25 m). Havia também um caminho, rasgado a partir do palácio, porque o caminho do lado oriental era intransitável, devido às características da natureza; e pelo caminho de acesso do lado ocidental ergueu uma enorme torre no lugar mais estreito do palácio, por onde não era possível passar duas pessoas".

Herodes, o Grande, viveu de 73 ao ano 4 a.C. Filho de idumeu, povo conquistado pela força e por ela convertido ao judaísmo, foi rei de Israel. Edomita, judeu e cidadão romano, precisava, por vezes, abrigar-se em Massada, para proteger-se de seus inimigos, entre eles, Antígono. Forçado por circunstâncias hostis, ameaçadoras de desalojá-lo do poder, enviou a mãe, a irmã, a noiva Mariana, a mãe desta, diversas mulheres e mais oitocentas pessoas de seu numeroso séquito, para Massada.

Massada tornou-se não uma simples fortaleza, mas um palácio fortificado, conforme foi denominada por alguns arqueólogos. Trabalhadores livres, remunerados e treinados em Roma, talvez construtores da cidade de Pompeia, destruída pela erupção do vulcão Vesúvio, foram encarregados de tornarem a fortaleza confortavelmente habitada.

Em escavações efetuadas no local, o professor Yigael Yadin descobriu restos de palácios, salas de banho, sinagogas e outros edifícios de rareada utilização.

Para edificarem a monumental fortaleza, extraíram blocos de pedras do próprio penhasco. As crateras decorrentes das escavações, efetuadas em forma retangular, serviam de reservatórios de água para consumo e como piscinas, destinadas ao lazer. Armazéns bem edificados guardavam o necessário à comodidade e à subsistência dos habitantes da íngreme elevação montanhosa. Segundo Flávio Josefo, esses depósitos acomodavam azeite, vinho, farinha e outros gêneros alimentícios. Também foram erigidas casas e alojamentos para oficiais e subalternos.

Considerado inexpugnável, o forte foi ocupado, no ano 70 a.C., por judeus oposicionistas ao domínio romano, que ali ficaram entrincheirados, cercados pelas tropas inimigas. Liderados por Eleazar Ben Yair, permaneceram sitiados por três longos anos. Eram quinze mil os combatentes romanos, bem armados, contra pouco mais de novecentas pessoas, novecentos e sessenta e sete, segundo a história. O pequeno contingente constituía-se de homens, mulheres e crianças. Uma força desigual, de consequência previsível.

Entrincheirados, os judeus zelotes resistiram heroicamente. Para não serem escravizados ou mortos, suicidaram-se coletivamente. Quase mil seres humanos puseram fim à própria vida. Enquanto viveram, foram impedidos de receber suprimentos e de descerem do penhasco hostil em busca do necessário à subsistência. Durante o cerco, entre outros alimentos consumidos racionadamente, destacava-se a carne de pombos, criados em pombais, anteriormente construídos por seus algozes.

Segundo nos transmitiu Salo Kapusta, nas ruínas de um dos edifícios de Massada foram encontrados fragmentos de textos bíblicos, como os do Livro de Ezequiel que, nos versículos primeiro e segundo, do capítulo trinta e sete, dizem:

"Veio sobre mim a mão do Senhor; ele me levou pelo Espírito do Senhor e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos". (versículo 1);

"E me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos". (versículo 2).

Nas palavras do pastor Josué Mello Salgado, em sua preleção no alto do monte visitado, Massada simboliza autodeterminação do povo judeu. Entre 1965 e 1971, por ocasião da cerimônia de formação militar das forças armadas israelenses, os soldados recitavam o juramento: "Massada nunca mais cairá!"

Atualmente, esse evento não acontece, a fim de dissociá-lo do suicídio dos mártires judeus. Essas informações foram confirmadas por Salo Kapusta, ex-militar israelense.

Conhecemos uma maquete, exposta no alto do monte, reproduzindo os três palácios de Herodes, edificados em Massada. Por medida de segurança, o rei pernoitava, cada noite, em local diferente. Herodes era considerado grande estrategista.

Interrompo, aqui, minha descrição sobre a viagem peregrina a Cidade Santa. Da próxima vez, falarei de outras etapas da abençoada excursão. Até lá!