Por pouco...

     Estou chegando do Ceará, onde me sinto em casa. Lá nasci e lá me criei.
Uma semana em Fortaleza. Fortaleza cantada assim por Gustavo Barroso e Antônio Gondim, no hino oficial da capital dos verdes mares: "Onde quer que teus filhos estejam,\ Na pobreza ou riqueza sem par,\ Com amor e saudade desejam\ Ao teu seio o mais breve voltar."
Digo e repito: meu passado em Fortaleza está sempre presente.
Claro que Fortaleza não é mais aquela cidade que me acolheu nos anos 1950. Mudou muito; mudou tudo. Principalmente pros lados da Aldeota. 
Fui rapazinho entre a Praça do Ferreira e Jacarecanga. 
Morei na Rua Agapito dos Santos durante muitos anos; o que facilitava minha vida como estudante, posto que, aluno do velho e querido Liceu do Ceará, hoje escondido por um tal de um jardim que lhe roubou a beleza e a imponência.
 
     Hospedei-me num hotel da Beira-mar.
E toda vez que passava pelo Náutico Atlético Cearense, que já foi o melhor clube do Brasil, lembrava-me que foi na sua praia o meu primeiro encontro com o mar.
     Jovem nascido no interior do Ceará, em Cariús, e depois de muitos anos no seminário, fiquei deslumbrado, mas tão deslumbrado com o mar que, por pouco, não fui tragado por uma onda malandra, que logo se desfez, como se nada tivesse acontecido. 
     Fui socorrido por um pescador que passava no momento em que eu era traiçoeiramente atingido pela tal onda, perdendo a visão e o equilíbrio. 
Caí literalmente de bunda diante de um sol brilhante e de dezenas de banhistas que curtiam, na praia, um domingo de encantador verão.
     O pescador aproveitou, e me fez esta advertência: "Cuidado, pai-d´égua, com o mar não se brinca!" Uma advertência bem cearense, que nunca mais esqueci.
Não digo que, desde aquele dia, passei a ver o mar do Ceará como um inimigo feroz e traiçoeiro. Mas nunca mais ousei enfrentá-lo. Prefiro vê-lo de longe com suas jangadinhas buscando peixes e seu apaixonante crepúsculo.
Pois é, quando passo pelo Náutico Atlético Cearense, volvidos tantos anos, ainda me vejo lutando, desesperadamente, contra aquela onda maldita que quase me deu o mar cearense como sepultura.
Teria ficado no Siará para sempre...

Nota - Pôr do sol em Fortaleza. Saquei esta foto na Volta da Jurema: Beira-mar.
      
     

     

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 29/07/2012
Reeditado em 30/07/2012
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