MINHAS PRECES

Aos treze anos de idade, pela primeira vez, rezei a Santo Antônio pedindo um namorado.

Eu tinha ido á festa de quinze anos da prima Aurélia. Foi o meu primeiro baile e eu fiquei encantada vendo as meninas pouco mais velhas do que eu com seus namoradinhos.

E eu também queria arranjar um namorado para andar com ele por ai de mãos dadas trocando juras de amor feito as mocinhas dos romances que lia escondido da Mamãe.

A partir dai comecei a reparar em todos os colegas, amigos, vizinhos procurando encontrar entre eles alguém que seria o meu grande amor.

E todas as noites rezava a Santo Antônio.

Mas só dois anos depois, já com quinze anos tive meu primeiro namorado, isto é, nem sei se posso considerar como namoro, pois só nos encontramos uma vez. Não achei muita graça nele e ele também não deve ter gostado de mim, pois não me procurou mais.

Dos quinze aos vinte paquerei muito, mas não consegui me interessar realmente por ninguém.

Pedia ao Santo um homem bonito, inteligente, bem sucedido na vida e que gostasse muito de mim, mas nem mesmo o Santo Casamenteiro conseguiu encontrar o raro espécime.

Finalmente arranjei um namorado que durou vários anos e que queria tudo menos um relacionamento sério e nada de casamento. Até que um belo dia me abandonou para namorar outra com a qual logo se casou.

Fiquei muito magoada mais pelo desaforo do que mesmo por ele. Chorei um pouco, mas acabei enxugando as lágrimas e continuando a olhar a minha volta para ver se avistava alguém que pudesse namorar.

A essa altura já não queria qualquer um. Queria alguém que realmente valesse a pena, que fosse perfeito dentro dos meus parâmetros de perfeição.

Um não servia porque bebia muito, outro falava errado, outro era muito gordo, outro ganhava pouco, outro tinha uma família que não me era simpática, e assim por diante.

Mas rezava cada vez mais, insistindo com o Santo para que me ajudasse a encontrar o homem ideal e conquistá-lo é claro.

E o tempo passando.

Depois dos quarenta, o tempo parecia voar, os anos se sucedendo, eu sofrendo a natural agressão, e, quanto mais procurava me conservar jovem e arranjar um marido, não conseguia nem uma coisa nem outra.

Minhas amigas foram casando, se afastando e eu me sentia cada vez mais ansiosa, rezando fervorosamente para que o Santo fizesse o milagre de colocar algum solteirão  no meu caminho, e nada!

E assim cheguei ao que sou hoje, uma velhota de cabelos pintados, dentes postiços, alguns pequenos problemas de saúde, mas não perdi a esperança. Quem sabe um viúvo que já tenha seus próprios filhos e esteja procurando alguém para lavar suas cuecas...?

Se você conhecer alguém...

E continuo rezando, pois talvez ainda não tenha rezado o suficiente.

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Este texto pertence ao Exercício Criativo QUANTO MAIS REZO
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Maith
Enviado por Maith em 16/07/2012
Código do texto: T3780320