Aventura no Amazonas - Final

Recomposto do abalo pela perda do capítulo da monografia, refiz o texto. Os dias eram curtos para o prazo da defesa.

Além do texto, que ficou com 59 páginas, tive que fazer a montagem do documentário. Eram três fitas VHS. Além das filmagens em Caburi, também filmei em Benjamin Constant, nos limites do Brasil, Peru e Colômbia. Fui literalmente de leste a oeste do Amazonas pra fazer vinte minutos de documentário.

A professora Aparecida Morais foi comigo nas primeiras horas de edição, deu uma lida no texto e se admirou:

- Eduardo, você escreve bem.

- Que bom que gostaste.

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Quem trabalha com edição sabe a dificuldade que é ter apenas um dia para decupar, selecionar, escolher trilha sonora, editar e finalizar um vídeo. E eu tive que fazer tudo isso na véspera de minha defesa.

Das sete da noite às seis da manhã, fiquei na casa do rapaz que faria a edição. Não jantei naquela noite.

A Defesa seria às dez da manhã. Fui pra casa quando o dia clareava. Dormi somente uma hora e meia, acho.

Tanto trabalho, tantos perigos e tanto cansaço, para ganhar um NOVE!

A banca disse que não havia entendido meu objetivo. Como? Estava tudo claro: mostrar o trabalho do Internato Rural em Caburi. Até hoje eu é que não entendi o objetivo da banca. A minha orientadora ficou desolada. Desconfio que houve jogo de interesses.

Tudo bem, nada como um dia após o outro e uma noite no meio.

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Depois de alguns meses, minha orientadora me incentivou a participar do SET Universitário, um evento de Comunicação Social de nível nacional que acontecia na PUC do Rio Grande do Sul.

Arrisquei e inscrevi meu trabalho para ver se eu seria selecionado. Dentre 400 documentários, somente dez seriam escolhidos para apresentação no evento. E EU ESTAVA ENTRE OS DEZ! ALELUIA!

Se a banca havia me dado nota nove, agora eu estava entre os dez mais daquele ano.

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Minha mãe pagou a passagem (estudante, sabe como é, né?). Fui a Porto Alegre. Meu vídeo seria apresentado no segundo dia. Na véspera, no hotel, fiquei lembrando dos dias trabalhosos e momentos aflitivos na selva. Agradeci muito a Deus, pois meses antes estava em uma canoa furada, à noite, no meio da Selva Amazônica, e agora estava ali, em um quarto de hotel, esperando a hora de ver meu documentário ser apresentado para um público nacional.

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Chegou a hora. Antes, passei em um shopping para almoçar. Comi uma comida que pensei ser boa. Tomei um táxi e rumei para a PUC. No trajeto, comecei a me sentir mal. Chegando à PUC, ainda sem sair do táxi, a cabeça começou a rodar, o estômago começou a embrulhar e senti uma forte náusea. Pedi ao taxista que me levasse de volta ao hotel.

Foram dois dias inteiros trancados no apartamento, tomando medicamentos para infecção. A comida do shopping me fizera muito mal. Já me imaginava sendo encontrado morto no apartamento: como iriam levar meu corpo de volta?

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A Pró-reitora de extensão da Ufam, que havia me possibilitado fazer as viagens do documentário, o apresentou ainda em vários seminários de interiorização da Ufam, e meu amigo Guilherme, professor, sempre me chamava para mostrá-lo aos alunos de Pedagogia.

Infelizmente, quando mandei para uma produtora para transformá-lo em DVD, me disseram que a fita estava sem condições de ser vista, havia se passado anos até que o DVD fosse inventado.

Ficam essas lembranças. Não vi a apresentação do documentário, mas só o fato de meu trabalho ter concorrido com centenas, sendo escolhido e reconhecido, já me encheu de satisfação.

Eduardo Escreve
Enviado por Eduardo Escreve em 13/07/2012
Reeditado em 13/07/2012
Código do texto: T3775707
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