BOM DIA PAPEL.


Por Carlos Sena


 
Bom dia papel. Por que você não me responde? Bom dia papel! Já sei. Você não me responde porque você não é papel. Você é apenas uma “miragem” que a internet libera com o nome de Word. Mas eu te vejo aqui, na minha frente, em formato de papel e, mesmo assim, você não responde ao meu bom dia. Seu silêncio eu escuto como forma de repreensão. Como pode um escritor, poeta, contista, etc., ser repreendido pelo seu companheiro de trabalho tão cedo da manhã? Não estaria ele, o papel, dormindo? Afinal, os escritores tem mania de não darem férias ao papel, nem a “máquina de escrever” rebatizada de computador... Mas eles tiram férias! Considerando que eu seja escritor – prefiro me definir ESCRIDOR, não dou férias a esses meus companheiros de labor. Por isto, diante dessa frustração por conta das recusas ao meu “bom dia” eu relevo. Relevo, principalmente, porque quem cala consente. E o que mais esse “papel” faz comigo é ser permissivo. Há momentos em que ele é tão permissivo que me irrita: aceita tudo que eu lhe mando conduzir sem nenhuma crítica. Há dias que, cedinho eu já ligo o computador, aciono o world, o chamo e ele vem como um cachorrinho abanando o rabo. Fica prostrado em minha frente. Olho pra ele, ele olha pra mim e ficamos meio assim feito psicanalista olhando para psicanalisado e vice versa. Noutros dias, perco o sono e vou para computador “procurá-lo”. Onde é que eu primeiro busco esse “sono”? Lá, diante dela, a minha página em branco que eu sempre penso que é papel A-4. Muitas vezes não lhe “digo” nada e ele mesmo assim fica quieto como que me perguntando: “se nada me foi dito algo ainda vai ser perguntado”? – fico morto de vergonha diante da minha incompetência para, em nome de procurar o sono, não escrever nada por absoluta falta de assunto... Ou não! Acontece, às vezes, aquela história que todos falam: “deu um branco”! Mas, tinha que ser mesmo branco. Porque o papel é branco – mesmo sendo na janelinha do world do computador! É como se fosse, pois o mundo virtual é um pouco dessa coisa do ser sem ser e quando é nem sempre parece ser. Confuso? Sim. Por isto me senti “jogado contra a parede” quando, cedinho da manhã como agora (8 horas da manhã do dia 12 de julho de 2012), dou “BOM DIA” e ouço o silencio como resposta. Menos mal. Prefiro acreditar que “quem cala consente”. Bom Dia, papel! OK. O que os olhos não vêm o coração não sente, mas eu estou te vendo e te sentindo e agora o que é que eu faço? Já sei, não fala nada. O consentimento está subentendido como a maioria dos textos que escrevo. Reconheço: quem mexe com palavras quase sempre, deixa nas entrelinhas o significado do que de fato gostaria de dizer com todas as letras... Valeu, papel. Bonito papel.