130 - AH! SE EU PUDESSE...

Tenho um amigo que é proprietário de um imenso supermercado em nossa cidade, pessoa honrada, sempre sorridente, gosta muito é de ajudar aos necessitados, mas nesta tarde ao me aproximar do seu estabelecimento estranhei ao vê-lo sentado em um dos bancos de uma pracinha que existe em frente ao referido estabelecimento. Estacionei meu veículo disposto a sentar ao seu lado, mas assim que ele me viu, apressado se levantou, me cumprimentou, esticou assuntos de pescarias, quando tem tempo ele gosta muito é de pescar lá no estado do Mato Grosso lá pelas bandas do rio Taquari, mas atalhei e perguntei:

- Amigo! Você hoje está parecendo com um frango de granja, asas caídas, cabeça abaixada, olhos no chão, jururu de tudo, um ar de canseira, doideiras a matutar, senti!

- Sabe de uma coisa! Vou te contar tim tim por tim tim, ultimamente me sinto esgotado, frouxo, sem ânimo algum, eu trabalho neste ramo desde os doze anos de idade e já se rolaram outros quarenta neste batente, sonhava em ter o meu próprio negócio, mas de tanto lidar com o ser humano e seus incontáveis problemas te digo uma coisa, o que mais gostaria que acontecesse na minha vida neste momento é não ver mais gente na minha frente, não ver tantas pessoas à minha volta, cada um pedindo uma coisa, cada um esperando que eu resolva os seus problemas!

- Poxa! Eu estava até pensando que o seu problema seria falta de dinheiro ou falta de tesão!

Ele deu uma imensa gargalhada, e continuou:

- Você sabe que falta de dinheiro eu não tenho, quanto a falta de tesão a minha esposa pode confirmar o quanto ainda estou bãããão naquilo, o que não estou tendo é saco para aguentar essa gentarada com tantas reclamações, tantos cheques sem fundos, ultimamente até seguranças internos contratamos tal a quantidade de pessoas que adentram ao supermercado com o único intuito, roubar mercadorias, o dia é cansativo, conflitante, da vontade de sair correndo e não mais voltar aqui, hoje não aguentei me refugiei aqui nesta praça e daqui fico olhando pra lá como que tudo aquilo não me pertencesse, nem o telefone celular eu carrego, não tem coisa mais enervante que o barulho destes telefones, e eles tocam o dia inteiro. Ah! Seu eu pudesse...

- Ah! Se eu pudesse o que?

- Se os meus filhos assumissem de vez o comando deste supermercado e abraçassem todos os seus problemas, eu queria mesmo é comprar um imenso caminhão de cor branca, que dispusesse de uma espaçosa e confortável cabine, com sofá cama, frigobar, televisão, som incrementado, eu queria mesmo é rodar o este nosso Brasil de norte a sul, de leste a oeste, sem pressa alguma, passarinho da gaiola fugido deslizando num céu de brigadeiro, vento e chuva na cara, nas paradas cozinhar o meu arroz carreteiro, som nas alturas, qualquer caminho seria o meu caminho, qualquer canto seria o meu canto, a cada dia novas paisagens, novas cidades, novas caras, novos causos. Ah! Eu seria um homem feliz...

Ele ainda tentou continuar no assunto, mas logo logo o chamaram, estavam precisando da sua presença no escritório para resolver algumas quizilas.

Continuei o meu caminho pensativo será que aqueles caminhoneiros que rodam por este Brasil de uma ponta a outra são realmente felizes? Ou será que aqueles caminhoneiros sonham em possuir um supermercado para se livrarem de tantas viagens e serem felizes? Parece que a nossa felicidade nunca será plena, sempre faltará alguma coisa, e esta coisa faltante nos levara a sonhar que a felicidade do outro é sempre maior e melhor que a nossa!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 09/07/2012
Reeditado em 10/07/2012
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