Poluição visual

Poluição visual

Tenho andando por muitas cidades nesse mundo e em todas eu encontro praças e mais praças sendo cuidadas para amenizar a paisagem cada vez mais fria que o progresso vem traçando. É justamente nelas que ainda sobra o aconchego dos bancos, os canteiros coloridos de flores, as árvores que amenizam o concreto cinzento que chegou com o asfalto das ruas. Em muitas delas se concentra o lazer para os mocinhos de ontem que ali ficam jogando em tabuleiros de concreto, ou simplesmente batendo papo com os amigos, relembrando os velhos tempos. Em outras, a moda agora é cuidar do corpo e as prefeituras estão investindo em aparelhos de musculação e alongamento para quem quiser curtir a onda do corpo bem definido ou simplesmente cuidar da saúde. Outras são locais de encontros de jovens e crianças que buscam a liberdade de brincar que não existe mais nas ruas... São muitas as características das praças que encontro no meu caminho, mas nenhuma como a da praça da matriz de minha cidade. O lugar onde deveria prevalecer a harmonia da natureza, o que vem prevalecendo é o comércio que cada vez ocupa mais espaço. Nunca vi, em lugar algum por onde passei, uma praça onde o espaço público tenha sido dominado por coberturas metálicas de pontos de táxi, agredindo a paisagem e ocupando a liberdade de ir e vir entre os canteiros. Aos poucos, a praça vai perdendo a sua identidade enquanto a dividem em lotes, para criar os ditos pontos que os taxistas pagam caro para usufruir. E o que era praça vira estacionamento, negociação de espaço. E como se não bastassem os sombreiros abusados, agora ainda inventaram de colocar um outdoor gigantesco bem à frente de sua entrada lateral. De longe, a paisagem mansa da igreja no meio da praça foi ofuscada pela luz espalhafatosa que se alterna noite e dia nos anúncios, que muita gente vê, mas nem sempre lê o que estão divulgando. Acho que é porque nem todo mundo acredita que ali possa ser um local de divulgação de produtos e serviços. Não entendo como empreendimentos particulares podem nascer assim, atropelando o espaço público. E também não entendo como não aparece ninguém para defender a identidade de nossa cidade, que aos poucos vai perdendo suas características para inovações que agridem não só os olhos, mas a nossa história também. Acho que sou meio atrevida por criticar as coisas que me incomodam, mas infelizmente nasci com essa veia crítica e com muito amor pela minha cidade, onde a maioria das pessoas menospreza a tradição e a cultura. Essa praça é tradição, tem história e faz parte das saudades que guardo dos meus doces tempos de mocinha, quando caminhar entre os canteiros, ver os amigos no final de semana e sonhar em ver o namorado era a maior alegria de nossas vidas. Dá-me pena vê-la de repente tão comercial assim, tal qual aconteceu com o Cine Vera Cruz, o Clube Recreativo e todos os espaços que antes espalhavam alegria e emoção no passado, que foram tragados pelo capitalismo selvagem do comércio. Essa aberração luminosa no meio de nossa praça talvez tenha sentido para alguns, que veem no neon a cor do progresso que invade o mundo, tal qual a China, Tóquio, Las Vegas e tantas outras cidades que apostam no colorido das luzes para mostrar suas atrações, atrair o mundo com suas excentricidades. E pagam um preço alto pela poluição sonora e visual das quais são reféns em nome da modernidade. Não preciso falar da frieza desse mundo, do stress que ronda seus habitantes e do mundo natural que sacrificaram para a exibição do luxo que só materializa o ser humano. E enquanto a consciência de alguns homens se volta para o equilíbrio natural do ambiente em que vivemos e vão aos poucos limpando as grandes cidades do atentando à beleza que ainda existe nas ruas, nossos digníssimos representantes vão lavando as mãos diante da poluição visual que aos vai apagando as feições da nossa cidade menina, deixando transparecer um perfil que francamente, não combina...

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 05/07/2012
Código do texto: T3762297