Casamento falido

Ela é bela e anda pela rua tumultuada. É vista por todos e invisível aos próprios olhos. Sua autoestima não existe mais. Não se vê nem se valoriza. Acorda todo dia como quem toma uma pílula de infelicidade.

A terapeuta faz sessões semanais a R$ 200,00 cada. Ela faz terapia há cinco anos. Um total de R$ 48.000,00 queimados juntamente com seus dias inúteis.

Qualquer um poderia fazer um diagnóstico: é problema de casamento falido.

Ela é bela e anda pela rua tumultuada. É vista por todos e invisível aos olhos do marido. Sua autoestima se acabou pela falta de elogios, com a superficialidade da instituição que adentrou por amor e que suporta por conveniência.

Seu marido trabalha e paga as contas em dia. Ela trabalha e gasta tudo com os filhos. Está tudo certo. Ela reclama que ele passa pouco tempo em casa. Que os filhos sentem falta do pai. Que ele trabalha muito. Ele reclama da reclamação injusta dela. De que quando está em casa ela fica limpando a casa e correndo atrás dos filhos, que não dá atenção para ele. Que gasta demais. Ela sente falta dele, mas quando ele está em casa, fica entediada e não vê a hora de ficar sozinha.

Casamento falido. Dois que eram um vivendo sob o mesmo teto como dois estranhos. Acostumados às suas esquisitices. Suportando as manias um do outro. Beijando sem gosto e fazendo amor por obrigação. E ambos se sentindo mal e culpados pelo fracasso.

A solução seria fácil se não fosse incômoda: o divórcio. Mas seria o divórcio dos bens, das famílias, dos amigos, dos costumes e das miserabilidades.

Depois de tanto tempo, o que fazer de sua vida? Como recomeçar? O que falar para os vizinhos fofoqueiros e a sociedade hipócrita? Como dormir sozinha depois de se acostumar ao ronco do companheiro? E os filhos, como reagirão? E se a solidão for implacável?

Ela vai continuar indo à terapeuta. Precisa entender sua vida, sua trajetória, para enfim tomar uma decisão.

A terapeuta comprou um carro novo.