SOVINA

SOVINA

Na linguagem popular é o famoso pão-duro. Um dos piores defeitos que o ser humano pode carregar.

É, também, um instrumento perfurante, utilizado pelo marceneiro, uma espécie de lima. Vejam bem, não tenho nada com isso! Pelo contrário, sou um tremendo mão-aberta. Vivo dando gorjeta. Basta alguém, espontaneamente, me prestar um favor. Aprendi muito com meu sogro, José Xavier Balheiro, de tão saudosa lembrança.

Durante todos esses anos de existência, convivi com diversos tipos de sovina. Há aqueles que, estando em determinado lugar, num restaurante, por exemplo, vendo um frasco de pimenta famoso, pede-o de presente. Alia o pão-durismo, com a cara de pau. Outros, quando amigos se reúnem para um determinado programa, havendo necessidade de ir de carro, jamais oferecem o seu. E, aqueles na hora do cafezinho, que nunca colocam a mão no bolso para pagar. Parece, até, que dentro existe um escorpião.

Mas, o pior de todos foi um conhecido, proprietário de uma prestadora de serviços. Lavanderia. Era eu cliente fiel dela.

Quando lá me dirigia, era um tal de dar a mão, me abraçar.

- Oi Lima! Tudo bem!

Isso sempre se repetia! Meses, anos...

Numa determinada ocasião lá cheguei, e fui recebido como sempre.

- Olá Lima, tudo bem!

- Olá, sim, tudo numa boa!

- E seu livro! Ainda não vi!

- É! Já publiquei o segundo. Vou buscá-los no carro!

Havia outro cliente ali na hora, tendo tomado conhecimento dos exemplares que apresentei.

Quando fui me despedir, lhe falei:

- Fica com eles! R$20,00 cada!

- Não, só vou ficar com um.

- Ô meu, fica com eles, poxa!

De tanto insistir, ele concordou.

- Porém, agora só vou pagar um!

Abriu a gaveta e meu deu os R$20,00. Imaginei... Aquela infinidade de roupa que ele tinha ali, loja de tão grande movimento, e não poder pagar os dois! É muito pão-durismo.

Tudo bem. Fui embora. A coisa não parou por aí, todavia!

Passados alguns dias, necessitando utilizar os serviços, voltei ao local.

Notei a presença do proprietário lá no balcão de atendimento. Bem visível, de camisa cor de cenoura.

Quando desci do carro, e abri a porta de trás do mesmo, a fim de pegar a roupa a ser lavada, ele deve ter me visto, pois, ao olhar para dentro da loja, reparei o mesmo correndo para os fundos da mesma. Por quê? Para não ter que me pagar!

Voltei para o automóvel com a roupa, prometendo jamais voltar àquele local!

Muita sovinice para meu gosto! Que fique com o livro!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 01/07/2012
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