A Solidão do Silêncio

Conheci um homem que desde criança tinha uma deficiência grande na audição, porém não sei o porquê, e nunca perguntei a ele, nunca contou para ninguém. Os anos foram passando e o homem com essa dor guardada, foi rotulado de tudo; irresponsável, desatento, egoísta e até de um bom filho, já que não se defendia quando os pais davam uma bronca nele. Mas eu percebia que algo não era normal naquele homem, que para se esconder estava sempre ausente da família, na rua, ou dormindo em casa, nunca participava de brincadeiras com os irmãos, aos 14 anos passou a ingerir bebida alcoólica e a namorar toda mulher que mostrasse interesse nele, com isso conquistou a fama de "O cara", porém a sua pouca audição o tornara um homem tão voltado para si, que parecia que ele não enxergava mais ninguém, além da sua surdez. Casou, teve filhos, e na tentativa de proteger esses filhos, fazia tudo para que a vontade de seus filhos, fossem realizadas, de uma forma bastante exagerada, e não se importava de pedir, mentir, trapacear, o importante era o desejo do filho realizado. Mas como era um alcoólatra, e com valores totalmente invertidos e um caráter frágil, não era considerado um bom pai. Os anos continuaram passando, e os problemas aumentaram, o homem não progredia em nada, nem como pessoa, nem como profissional e muito menos com marido ou pai. Em certo momento sua esposa, cansada de conversar com ele e não obter êxito, foi procurar uma igreja evangélica que a acolheu, então a vida dela passou a ser exclusiva voltada para o senhor (Deus). O que deixou o homem ainda mais triste e desesperado, daí, a vida conjugal e familiar do homem passou a ser um inferno, tanto que pensou em separação e até em coisas piores. Em certo momento sabendo que ficaria longe daqueles que tanto amava o homem tomou a decisão de também entrar na igreja e mudou de vício, de alcoólatra passou a ser evangélico fanático. Não podendo mais mentir, contou para todos que era quase surdo, procurou a associação dos deficientes, conseguiu os aparelhos auditivos, incentivado por parentes, fez concurso como deficiente, passou em primeiro lugar e sua vida passou a ser bem melhor, hoje tem uma família estruturada, vive bem financeiramente, só que a vida passada, o tornou realmente um triste homem, sente mágoa da família, e muitas vezes, mesmo se dizendo um homem santo, se vinga de algo, que algum familiar fez no passado, esquecendo-se que ele se escondeu em um mundo próprio, e que ninguém poderia adivinhar o que se passava com ele. Acho que talvez seus pais sejam um pouco culpados, principalmente a mãe, que em nenhum momento descobriu que algo de estranho acontecia com aquele filho, porém posso garantir, que hoje o homem é maduro, mas a criança que ficou lá atrás ainda está presa na solidão do silêncio.

Tânia Suely Lopes
Enviado por Tânia Suely Lopes em 26/06/2012
Reeditado em 28/06/2012
Código do texto: T3745445
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