O sumiço de Lajota
(ou O Sapo e o Meio Ambiente)

Descobri certa vez, ao molhar o jardim, um grande sapo quase que inteiramente sob uma grande pedra que havia em um dos cantos. À medida que comecei a direcionar o jato da mangeira até ele, vi que o seu tamanho ia ficando maior e, claro, pude ver que fazia um esforço para sair dali.
No dia seguinte chegamos, eu e um primo, bem perto da pedra e lá estava ele; pude vê-lo completamente; chamei alguém que passava e pedi que o tirasse de lá. O homem pediu-me sal ou cloro, mas não concordo com essa técnica. Ele então perguntou se tinha uma caixa de sapato e, com a vassoura, o empurrou para dentro. Pesarosa, lacrei com fita larga adesiva, em todas as direções e a colocamos no cesto do lixo. Dia seguinte, dia do caminhão passar, espantosamente pude verificar: a caixa estava vazia. Corri até o local da pedra e... Quem estava lá? O Lajota, nome dado por meu primo. Mais uma vez recorri à outra pessoa, o meu jardineiro, que o colocou dentro de dois sacos, lacrou a boca com a mesma fita e disse-me que o levaria e o jogaria em um terreno baldio a caminho de sua casa. E lá se foram os dois de bicicleta...o jardineiro mora longe, então...Nem fui pela manhã ao local fatídico, porém à tarde, meu primo gritou meu nome: - Yara, Lajota voltou!
Já tinha tirado minha calma, aquele sapão. Nem dormi como de costume. Que gatos voltam já sabia, tenho o que contar, qualquer dia. Mas sapos? Meu primo o tirou de lá com a vassoura, abriu o portão (por onde ele passou, por baixo, não imagino como) e “conversou” com ele:
- Vamos lá amigo, vá embora, a moça não lhe quer aqui e ia jogando água através do jato forte da mangueira. Pulando e pulando ele desceu o passeio e nunca mais o vimos. Mais tarde, disse meu primo: ele come mosquitos, formigas e outros bichinhos, você devia deixá-lo aqui. Sabia, mas já tinha ido, ainda bem.

“Infelizmente nossos amigos anfíbios estão desaparecendo desse mundo. Já havia ouvido falar nisso há muito tempo, mas não sabia a causa até ler na Revista Geo (http://revistageo.uol.com.br/) que eles estão sendo atacados por um fungo e muitas espécies já desapareceram por completo de muitas regiões do planeta. Podemos até duvidar, mas a verdade é que os brejos estão realmente ficando mais silenciosos e não vejo tantas pererecas pulando nos vidros das janelas como antigamente” (Luciano Silva Vieira), em seu blog.

Faz sentido. Já não vejo sapões nem sapinhos no jardim, nem pererecas no vidro do Box de casas nas áreas de brejo ou de praia, como sempre via (e corria). Agora é raro, e, quando vejo alguma, converso com ela:
- olha, vou tomar banho; fica quietinha aí, por favor, se não quiser descer esgoto abaixo.
Em temporadas que passamos na praia, já ouviram minha conversa e me chamam de doida: - “está doida”, conversando com a rã. Imagina!
Não ligo mais para elas, que estão cada vez mais em menor quantidade.
Ainda bem, dizem, mas... será? Cada ser vivente tem sua função; se não os deixamos quietos, a espécie se extingue e sabe-se lá como será a “nova” e o que fará de nós, os racionais.

O mesmo está acontecendo com as formigas. Lembro-me criança olhando as formigas nos quintais, jardins, nas árvores, nas roseiras, e ruas sem pavimentação. Atualmente elas estão “morando” dentro das caixas dos disjuntores, derrubam azulejos e até paredes! As formigas deixaram o seu habitat, assim como estão fazendo as capivaras, macacos, papagaios, e por aí vai. Já não comem folha da roseira, mas açúcar, bolo, arroz, carne. Prestem atenção, estão com gosto refinadíssimo, embora no lugar delas, preferia a roseira.
Pensam que elas não sabem que lugar de veneno é na terra? Sabem sim! Assim me falou o dedetizador: - dona, posso fazer, mas, quando elas voltarem, voltarão em dobro! Então, deixa elas na pia; um grão de açúcar é uma festa!

Aonde vamos parar e como vamos conviver? Esta pergunta ficará aqui, para daqui a muitos anos, se estiver em um livro ou alguém contar o conto do sapo Lajota de boca em boca, ouvir uma resposta. Porque eu, sinceramente, não faço a menor idéia.


Hoje, é um igual ao da foto que tenho sobre a pedra grande, em homenagem a LAJOTA