Orgia literária

“Basta sentir que se poderia viver sem escrever

para não mais ter o direito de fazê-lo.”

Rainer Maria Rilke, in Cartas a um jovem poeta

Eu amo os livros! Não gosto muito de livros digitais, mas na falta dos físicos e simplesmente por serem livros, eu os amo também. Mas voltando, eu amo os livros. E irresistivelmente faço amor com quem amo. Sim, faço amor com meus livros. Na calada da noite, ao meio-dia, a qualquer momento que se me ocorrer o incontido desejo de namorá-los.

Rubem Alves já disse que “ler é fazer amor com as palavras”. Porém, o que tenho com eles é muito mais que leitura, é muito mais que “fazer amor”. É um amor puro e verdadeiro. Porque convenhamos que “amar” é diferente de “fazer amor”. Duas coisas que podem ocorrer sobrepostas, mas não necessariamente.

Em se tratando de prazeres, curto uma verdadeira orgia literária: abro diversos frequentemente, passo a mão neles, sinto seu cheiro, leio vários ao mesmo tempo, dou uma paradinha, retomo, recomeço, continuo, vou até o fim e faço tudo de novo como se fosse a primeira vez... Folhear me causa arrepios...

Mas voltando novamente (que mania minha de desviar o foco!), eu amo meus livros! Durmo com eles! Penso neles sempre. Escrevo neles, para eles, com eles e sobre eles. São meu refúgio, meu apoio, o sustento da minha alma e a serenidade da minha mente. São ao mesmo tempo a aquietação e a inquietação do meu coração.

Pergunto-me por que dedico tanto amor assim aos livros. E descubro duas razões evidentes: a primeira, é porque é um amor incontido, incontrolável, desses que se sente e não precisa (nem se pode) saber por quê; a segunda e a principal, é porque eles correspondem a todo amor a eles dedicado. São fiéis, verdadeiros, companheiros, repletos de bons conselhos – livres de interesses pessoais – e de sábias lições. Outra prova de amor é o meu ciúme deles...

Pena que quando eu morrer, não poderei levá-los todos comigo. Mas certamente meu amor por eles sim é eterno e me acompanhará por além da vida.

Um amor tão intenso assim só poderia resultar em filhos. Já dei à luz um, o “Amálgama”, de poesias, mas tenho vários outros em gestação. Amor gera mais amor...

(Catalão, 14/06/2012)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 14/06/2012
Reeditado em 14/06/2012
Código do texto: T3724143
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