O LIXO NOSSO DE CADA DIA

No meu bairro o caminhão do lixo passa de segunda a sexta-feira, mesmo sendo feriado. Nas segundas, quartas e sextas é recolhido o lixo orgânico, é tudo que apodrece e vira adubo. É o lixo que enriquece a terra. Nas terças e quintas o que vai embora é o chamado lixo seco, são garrafas, latas, cadeiras quebradas, aparelhos elétricos imprestáveis e tantas coisas mais.

Para quem está jogando fora, lixo é lixo e não tem outro nome. A dona de casa quer se livrar daquele objeto que já não serve e só ocupa espaço. Amontoa as coisas velhas na frente de casa, adeus velharias inúteis. Antes que o lixeiro venha, alguma coisa pode ser objeto da curiosidade de transeuntes. Ou passa um carroceiro recolhendo papelão, aproveita e leva o que lhe serve.

A verdade é que quase tudo pode ser reciclado, pode haver valor no que aparentemente é inútil. Como há pessoas que procuram aproveitar as coisas, também há empresas que trabalham na reciclagem de materiais. Sem dúvida, o século XXI será o século da reciclagem.

Aqui em casa tenho mais de cem livros que peguei no lixo. Livros que foram jogados fora. Os Lusíadas, de Camões; o romance Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques; muitos livros didáticos e vários dicionários da língua inglesa, além de exemplares da revista Superinteressante e da revista Seleções.

Outro dia vi um ventilador, aparentemente novo, aguardando o momento de ser levado pelo caminhão do lixo. Deveria estar estragado, mesmo assim levei-o para casa. Ao ligar, logo comecei a sentir um cheiro de queimado. Por isso é que foi jogado fora. Peguei uma chave de fenda e abri-o. Eram dois fios desencapados que estavam tocando um no outro. Passei uma fita isolante em volta dos dois e o ventilador passou a funcionar muito bem. No mesmo dia vendi-o para uma vizinha.

Ninguém gosta de lixo, mas o lixo dá trabalho, tem gente que tira o seu sustento do lixo. Pois o lixo dá até dinheiro, só não dá poesia. Ninguém quer ser o poeta do lixo. Os poetas só querem falar do amor, dos sentimentos da alma e das coisas belas da natureza.

Mas o lixo é a realidade em nossas vidas, é a rotina do dia a dia. Amanhã passará o caminhão como sempre, acompanhado pelos lixeiros de pernas ágeis e mãos que nada deixam para trás. Todo o lixo vai embora, mas sempre haverá mais.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 12/06/2012
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