A caminho do Gólgota

Os nossos desejos, às vezes, são realizados. Em 7 de maio de 2012, transcorridos quase setenta e dois anos do meu genetlíaco, viajei à Terra Santa, Israel, transformando em realidade o sonho de conhecer os sagrados locais mencionados na Bíblia. Ainda bem que a saúde precária e o caminhar claudicante foram superados pela vontade de pisar o solo percorrido por Cristo, meu Senhor e Salvador pessoal.

Éramos trinta e três os peregrinos, membros da Igreja Memorial Batista, sediada em Brasília, cujo pastor foi nosso guia espiritual, coadjuvado por Salo Kapusta, judeu convertido ao Cristianismo.

O voo foi realizado em avião da Iberia, empresa espanhola. Durou mais de dez horas sobrevoando os oceanos Atlântico e Mediterrâneo.

Depois de frugal jantar, cansados da exaustiva viagem, nossos companheiros cochilavam, liam ou levantavam-se para frequentes idas ao toalete de bordo. Poucos dormiam. Eu, particularmente, completei a leitura do livro digital constante do meu ipad, intitulado O Peregrino, narrativa agradável, de inspiração religiosa, contando a incrível caminhada de um cristão, rumo ao Paraíso.

Chegamos a Madri depois de 8.600 milhas, percorridas desde São Paulo. Incentivados pela ociosidade que nos distanciava do próximo voo, com destino a Israel, alugamos um ônibus e fizemos agradável city tour pelas centenárias e até milenares ruas da capital madrilenha. Nesse interessante passeio, entre outros monumentos, conhecemos a Praça de Touros, local de inesquecíveis touradas. A arquitetura de tão expressiva obra data da colonização árabe.

As ruas de Madri são modernas, com prédios centenários compartilhando o progresso ao lado de altos edifícios contemporâneos. É agradável passear pela cidade, conhecer seus monumentos históricos e apreciar a vida da capital.

Estivemos na Plaza Mayor, construída por Felipe III, para valorizar o seu reinado. O excelente espaço gastronômico conta com cento e trinta e seis lojas e quatrocentos e trinta e sete pequenos estabelecimentos comerciais. Caracteriza-se por ser lugar de encontro e de passeios turísticos. No centro da praça está a estátua de Felipe III, esculpida por Pietro Tacca. Felipe III foi o primeiro rei da dinastia austríaca, nascida na Espanha.

Falando dos atrativos que aguçam os prazeres da boa comida e de finas bebidas, destaco os frutos do mar e os vinhos. São muitos os restaurantes estabelecidos na Plaza Mayor, conhecidos por marisqueiras. Ali, saboreamos pratos da culinária madrilenha.

Nosso voo para Tel Aviv ocorreu em avião também pertencente à Iberia, cujas poltronas nos apertavam, sujeitando-nos a dores musculares, quase insuportáveis. Lotado de pessoas de várias nacionalidades, entre elas árabes e judeus, em alguns momentos tornou-se um caos de dificil administração. Alguns passageiros fizeram uma algazarra que nos incomodou bastante. Certo cidadão procurou o comissariado de bordo para reclamar do barulho que impedia os demais passageiros de conciliarem o sono, exceto daqueles que dormiam anestesiados pelo efeito do vinho, talvez fornecido com essa finalidade.

Tel Aviv nos impressionou sobremaneira. Embora a tenhamos conhecido "in passant", proporciono ao leitor algum conhecimento, decorrente da observação e pesquisa que realizei: O nome Tel Aviv, em hebraico, significa Colina da Primavera. Fundada em 1909, uniu-se à Jaffa, em 1950. É a segunda maior comunidade do país, com temperatura média de vinte graus Célsius e população de quatrocentos mil habitantes, assim distribuída: 91,8% judeus, 4,2% árabes e 4,0% cristãos e budistas. Possui praias banhadas pelo Mar Mediterrâneo, lojas de artigos de luxo e considerável polo turístico. Lá são faladas as línguas árabe, alemã, espanhola, francesa e hebraica. É uma metrópole moderna, com luxuosos edifícios apontados para o alto, demonstrando soberania e riqueza. Trata-se da mais importante cidade de Israel, a segunda do Oriente Médio e a décima sétima mais rica do mundo, dispondo da maior concentração de edifícios do planeta. Empresas de alta tecnologia e institutos de investigação científica fincaram raízes em Tel Aviv. O moderno, majestoso e funcional aeroporto, ruas asfaltadas e demais aspectos urbanísticos, bem cuidados, causaram inveja ao nosso pequeno grupo, acostumado ao abandono do sistema de transporte público brasileiro e de suas estradas de integração nacional, esburacadas e decadentes. A justificativa dos políticos para esse estado lastimável de nosso patrimônio tem sido a escassez de recursos financeiros. O muito que o governo arrecada, espoliando o cidadão incauto, esvai-se pelo esgoto da corrupção tupiniquim. O verdadeiro motivo, sabemos, é a transferência de recursos públicos para os cofres de políticos inescrupulosos, ladrões do Erário, figuras execráveis que, por imaturidade política, elevamos aos píncaros dos poderes republicanos. Poderíamos ter aproveitado a estada santa, ajoelhados em locais sagrados, para pedir ao Todo Poderoso que nos livre dessa corja de malfeitores.

Depois de Tel Aviv, chegamos a Jerusalém. Antes, visitamos outras cidades históricas mencionadas na Bíblia. Essa nova etapa da viagem, porém, será tratada em outra oportunidade. Até lá, caros leitores!